quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Feliz Ano Novo! Viva a Bom Gosto!

No início dos anos 80, o Marcus deu a grande virada da vida dele. Trabalhava desde os 13 anos e estudava à noite (estas histórias, relacionadas ao início da vida profissional do Marcus, contaremos depois nesse blog).

Já havia concluído o segundo grau (era assim que se chamava o Ensino Médio)e pegava o ônibus todos os dias para cumprir expediente na empresa Pampa, Exportadora e Importadora, ali na Farrapos, quase esquina Sertório. Aliás, ele enchia a boa para dizer o nome da empresa, orgulhoso que era de trabalhar num lugar grande e luxuoso (para os nossos padrões).
Havia começado a se vestir melhor e a conviver com outros tipos de pessoas, na rotina do escritório. Foi nessa empresa que começou a ganhar os primeiros "tickets restaurante" para alimentação de que se teve notícia na nossa família.
Na época, eram "coupons" e, sinceramente, representavam muita grana para a gente.
A verdade era a de que ele fez um exame médico antes de ingressar na empresa e ficou sabendo que tinha um sopro no coração. a partir daí, passou a seguir alguns conselhos do cardiologista e deu início a uma das primeiras dietas de que me lembro na nossa família. Assim, a Lena cozinhava toda a comida dele, separava as saladas e frutas e montava a vianda que ele levava todas as manhãs.
Mas aí todo mundo pensa: e o Coupon Restaurante, cadê? Bem, como vocês que conheciam o Marcus devem imaginar, ele economizava bastante.
Segurava os tickets o mês todo e, ao final, juntava tudo e saíamos todos para jantar fora. Era uma verdadeira curtição em família.


Ah, nas viandas do Marcus que a Lena arrumava, lembro de um detalhe interessante, coisa de mãe, mesmo. Para que a salada de folhas frescas e tomate (sempre) não murchasse, a Lena fazia um molhinho com os temperos que ele gostava: sal, vinagre e azeite, colocava num tubinho pequeno (de remédio homeopático em bolinhas que sempre tinha lá em casa) e acondicionava bem no canto da vianda. Quando ele ia esquentar a comida e fazer a refeição, podia apenas sacudir e misturar os ingredientes e despejar na salada, recém-temperada, ao gosto dele. Legal, né? Desse jeito ele comia certo e a gente ainda podia comemorar no final do mês saindo todos juntos.

Foi a partir desse momento e daí para sempre, que o Marcus foi apresentado a restaurantes. O primeiro e mais duradouro, foi a churrascaria "Bom Gosto".
Desde a primeira refeição que o Marcus fez lá, numa festa de colegas da Pampa, ele não parou mais de retornar, como todo bom canceriano, fiel aos seus gostos.
Quem conviveu com o Marcus e teve a honra de ser convidado alguma vez por ele para ir jantar, pôde ver como ele cresceu e viveu como cliente vip daquela churrascaria, localizada na Rua Dr. João Inácio, 905 ou 917, Zona Norte de Porto Alegre.

Marcus na 6ª série

Marcus na escola, gordinho na época

domingo, 18 de dezembro de 2011

O primeiro Pinheirinho dos Pinheiro e um Natal cheio de Amor a todos e todas



Já que a época é de Natal, esse blog apresenta aqui a primeira árvore de Natal da casa dos Pinheiro, segundo memórias da Maria Helena. Ela contava orgulhosa que, assim que começou a trabalhar, comprou o pinheiro de Natal, enfeites e o presépio e deu de presente para a Vó.
Na foto, o pinheiro está montado em local de destaque, atrás da janela da sala da casa e fica ao fundo nas fotos da data, adornando a reunião da família Pinheiro no Natal de 1960.

Da esquerda para direita, dá para reconhecer a Vó Ecilda sentada de lado (logo atrás dela e bem na porta estão uma menina e uma outra pessoa que não sei quem são). Da porta para a direita estão o Iedo e a Maria Helena, namorados na época, o Renato e a Vó Saturna (Saturnina Flores, nossa Bisavó e bruxa, de quem esse blog contará algumas histórias oportunamente). Por fim, ao lado do Renato também tem um rosto de menino que não reconheço. Ao fundo a árvore enfeitada  e a mesa repleta de garrafas de champanhe mostram que a foto foi após a meia-noite do Natal de 1960, provavelmente tirada pelo Saul, fotógrafo da família.
Noite de Natal da família Pinheiro, 1960

O Blog do Marcus Feio de Lemos deixa aqui um grande abraço com espírito Natalino a toda a família Feio de Lemos, certamente existente em algum dos cantos do Brasil e de Portugal. Deixa também um abraço apertado a todos os Pinheiro, Flores, Silva, Kern, Dal Bosco, Menegat, etc. que compõem este clã e que, mais do que nunca, nesse período de festas e de confraternização, enviam de coração aberto muita luz, muita paz, amor e saudades ao Marcus e à Maria Helena, à Vó Ecilda, ao Vô Joventino, ao Saul, ao Raul e ao Sandro Pinheiro, nossos amigos queridos dessa e de outras passagens.
Feliz Natal a todos e todas.

Marcus presenteava com cartões de Natal



"Quando nos lembramos das flores,
Das ervas-daninhas nos esquecemos;
Quando nos lembramos das bênçãos,
Das necessidades nos esquecemos;
Quando nos lembramos dos risos,
Das lágrimas nos esquecemos;
Quando nos lembramos dos momentos felizes,
Do tempo nos esquecemos...

Feliz Natal! Venturoso Ano Novo!

São os votos de seu filho
Marcus F Lemos
Natal - 1977

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Feliz Aniversário, Renato Pinheiro!



Esse guri bonito sorrindo em frente à casa da família, na Avenida Assis Brasil, 911, no IAPI, é o Renato. Feliz e brincalhão, sempre anima quem está em volta e deixa saudade por onde passa. Aliás, já faz um tempo que queremos que ele passe por aqui, mas a coisa está difícil. Na foto, não parece ainda, porém esse menino é do mundo e adora a estrada.
Feliz Aniversário, tiozão amigo que marcou bastante a vida do Marcus.
Precisamos conversar para refrescar a memória e colocar algumas postagens de histórias bem cabeludas aqui no blog.
Por enquanto, meu querido, desejo(amos) um Feliz Aniversário e muita paz para esse coração agitado e sempre pronto a se (re)apaixonar!
Te amamos, eterno guri!
Porto Alegre, 18 de outubro de 2011.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Nossa Bisavó Menta, mãe do Vô Tinto

Bisavó "Menta" na frente de casa, em Caxias do Sul

























Em toda a vida de netos do Vô Tinto, jamais tivemos muito acesso às memórias da família em Caxias do Sul. Acredito que, quem mais saberia da história dos Pinheiro teria sido o (tio) Raul Pinheiro, o qual foi morar na cidade desde muito novo e por lá ficou.
Em alguns encontros de família e férias na casa do Tio Raul, que guardamos recordação com muito carinho por toda a vida, podíamos ouvir boas e bem-humoradas histórias do passado. Elas se referiam um passado não muito distante, mas que se perdeu pouco a pouco nas memórias dos mais velhos.

Recordo que o Tio Raul, na beira do fogão à lenha no frio inverno caxiense, contava fatos acontecidos na juventude do Vô e da Vó. Em razão de ter-se mudado para a cidade natal dos pais, não raras vezes ele encontrava pessoas que participaram da vida do pai e da mãe e contava cheios de detalhes os fatos sobre os quais ele tinha tido a oportunidade de saber mais.


Essa singela foto, acredito que tirada na casa dela em Caxias, é da nossa Bisavó Menta, revelada pela Casa Masson, em 1959. Dá para se ver que a paixão pelos cachorros, ou cuscos - como diria o Vô - é atávica. Há, inclusive, muitas histórias de cães da e na família que serão contadas nesse blog doravante.
Uma das coisas que ouvi nas conversas dos adultos da família é que a Bisavó Menta era descendente de indígenas, da tribo dos Bugres e que havia sido frequentadora da Igreja Católica. Lembro de ter ouvido, também (e me corrijam os mais velhos se vai aqui uma meia-verdade) que ela teria sido seduzida por um dos párocos, de nome Zito, e que este teria sido o início do clã dos Pinheiros.
Mas, para não cometer injustiças com os antepassados, esse blog vai buscar entrevistar alguns dos mais velhos para nos apresentar uma versão verossímil desses fatos.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Casamento de Joventino e Ecilda, ou do Tinto e da Cidoca


Na dedicatória do Joventino para a mãe, Vó Menta, datada de 18 de abril de 1934, uma terça-feira, casaram-se o Tinto e a Cidoca, em Caxias do Sul.
Essa foto ficava em destaque, na parede da casa da Vó, na Av. Assis Brasil, onde esteve pendurada durante toda a infância dos filhos e dos netos.

Certa vez, com toda a inocência possível de criança, lembro de ter perguntado à vó se, além do Vô e dela, que estavam na foto e eu reconhecia (apesar da passagem dos anos) o menino que aparecia abaixo dos dois seria o Tio Raul... Lembro que a Vó fechou a cara, me dirigiu um olhar muito severo e disse veementemente que não, sem me dar maiores explicações.
Logicamente, eu demorei muitos anos até entender o quão ofendida ela havia ficado por eu ter insinuado que o primeiro filho poderia ter vindo antes do casamento...

Verso da foto do casamento do Vô Tinto e Vó Ecilda, 1934

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Nasce o cachorro mais famoso da família Pinheiro: o BANZÉ


























Não esperem conhecer aqui apenas uma história de cachorro, pois o Banzé não era apenas um canino. Ele era o cachorro da Vó Ecilda, fazia parte da família Pinheiro e, após 1978, veio a fazer parte da família Feio de Lemos também.
Em fins de 1972, em Caxias do Sul, mais precisamente no porão da Rua Inocente de Carli, 1085, nascia um cachorro de pelo branquinho com duas manchas em forma de número oito no dorso e uma em um dos olhos. Tratava-se de mais uma das ninhadas da cadela (sem ofensa) Dorotéia e do Rusti, o casal de guaipecas do Tio Raul (Raul Pinheiro).

Os pais

A Téia era bem miúda e de cor preta, com “óculos” amarelos e rabo de toquinho. O Rusti era do Ricard (Ricardo Pinheiro) e deve ter ganho esse nome por causa do seriado Rim-Tim-Tim, cujo herói era um cachorro pastor alemão e pertencia a um guri chamado Rusty, umas das grandes paixões do Ricardo Pinheiro quando criança.
Lembro ter ouvido sempre dos adultos que as crias eram cruza de “ratoneiro” com um outro nome de raça, provavelmente uma não identificada. Mais tarde vim a saber que o “ratoneiro” não era nada mais, nada menos, do que o atual Dachsund, ou salsicha (linguicinha, etc.) como todo mundo chama hoje em dia.

As ninhadas na Casa da Tia Maria

Os cães da família eram todos importados da Serra Gaúcha. Nasciam e cresciam fortes, amamentados pela (Doro)Téia e embalados por todas as crianças presentes. A cada ninhada da cadelinha, corriam as crianças (Cláudia, Ricardo, Marcus e Cristina) para o porão a pegar os cachorrinhos no colo, sob vigilância da pequena mãezinha, que, mesmo com os olhos tristes, nunca sequer rosnou para nós. A gente passava o tempo que podia “socado”(na linguagem das mães) no porão, brincando com as crias. Dávamos nomes para cada um deles e tentávamos adivinhar como seriam quando crescessem.
Claro que essa alegria durava pouco, ou porque a Tia Maria (Maria Dirce Pinheiro) aparecia e nos convencia a largar cada uma daquelas coisinhas fofas, ou porque um dos tios surgia e – sem mais explicações – levava os filhotes para onde bem entendiam, à revelia da nossa vontade. Às vezes até abaixo de uma certa choradeira.
Aliás, um dos mais fortes argumentos que a Tia Maria utilizava para nos fazer largar os bichinhos era que eles não podiam ficar tanto tempo no colo. A causa? “Porque se não pesteia”. E se pestear, ela dizia, o bichinho morre. E quem das crianças queria que eles morressem???
Assim, convencidos e um pouco culpados, saíamos do porão daquela casa mágica, com um maravilhoso cheiro de cachorrinho novo e com algumas (nomeu caso, muitas)pulgas na roupa.

O Banzé



Em uma dessas ninhadas, veio o Banzé com seu rabo de toquinho, como a mãe, mas de cor diferente de todos os outros. Veio trazido em uma caixinha de sapato, no colo da Vera Regina, e, se bem me lembro, desceu a Serra na cabine de um dos caminhões da Rápido Girardi, direto para a Assis Brasil.
A Vó Ecilda criou o Banzé com bastante carinho e logo ele foi se adaptando à rotina da casa. Desde pequeno, era o companheiro dela. No início do dia, ele acordava na sala – o Banzé nunca dormiu na rua, como os demais cães que a família havia tido – e ficava sentado na porta do quarto da Vó e do Vô. Ali ele permanecia, de olhos fixos na Vó e no movimento repetido de suas mãos, que rezavam o terço a cada manhã. Ao final da última conta, ele corria feliz para receber o bom dia da Vó, que sempre vinha após a oração.

O Banzé foi o cachorro mais bem educado que já conheci. “Pedia” com um chorinho baixo para sair e fazer as necessidades na rua e batia com a pata na porta dos fundos para entrar de volta na casa. Inverno o verão, a rotina era essa.
Ah, não vou encerrar sem contar o banho, ensinado pela Vera com o ritual seguido à risca até a velhice do “Die do Banza” como ele foi apelidado. Ela chamava o cachorro para o banheiro (sim, o banheiro), abria a cortina do box e dizia: “Banho, Banzé”. Ele murchava as orelhas, se encolhia um pouco e andava até a muretinha. Ali ele dava uma paradinha, verificava se ninguém havia mudado de ideia e aí pulava para dentro do box. A Vera passava sabonete (de gente) nas mãos (ou xampu, ou o que tivesse por ali de mais cheiroso) e ensaboava o coitado do cachorro repetidas vezes. Na última, ela dirigia o jato do chuveirinho em todo o corpo dele e enxaguava bem, até que ele ficasse bem branquinho, todo pingando. Então ela se punha de pé, conversando com ele para que ele não se sacudisse violentamente, atirando água para todos os lados, da mesma forma que fazem todos os cachorros. Fechava a cortina do box, dizendo: “Agora pode, Banzé, agora deu”. Para a alegria da gente que adorava o banho do cachorro e ficava cuidando cada movimento, o Banzé se sacudia várias vezes, saía de lá mais sequinho. Com sorte, eu podia também ajudar a secar, o que significava pegar a toalha (dele, bem limpinha) e ficar um tempo com ele no colo, devidamente autorizado, fazendo bastante carinho.
Como o Banzé acompanhou a família durante mais de 15 anos e mora no coração de muita gente, voltaremos a ele algumas vezes nesse blog.

Foto: Marcus com o Banzé filhote no colo, em frente à vitrine decorada para crianças das Lojas Renner do Passo D'Areia.

Juarez, amigo e Fotógrafo, trouxe a fotografia para a vida do Marcus




Um dos fatos que vieram a marcar definitivamente as vidas da comunidade foi a abertura da ACM – Associação Cristã de Moços, ali, bem pertinho da gente, na Rua Santa Catarina. Em um primeiro momento, parecia apenas um clube e atraiu a curiosidade de todo mundo ao redor. A primeira na família a desvendar aqueles caminhos e começar a frequentar a ACM, foi a Rose. Empolgada com a novidade, comentou conosco sobre a cancha de esportes, sobre a presença permanente de professores, jogos abertos à comunidade e muita gente circulando por lá para fazer amizades.
A Rose sempre teve esse dom, o de fazer novas amizades com facilidade. Ela ia sempre lá para jogar Ping Pong e fez aquela propaganda. Veio também a notícia de que tinha piscina em algum lugar (que não era bem ali) o que já bastou para aguçar a curiosidade de todo mundo.


O Marcus foi logo em seguida, descobrir aquela coisa nova e bem mais perto do que o nosso querido Centro Comunitário Primeiro de Maio. A ACM abriu as portas na distância de meia quadra da casa da Vó Ecilda. Assim, convencidas as mães da importância do assunto, levamos os papéis e fizemos as carteirinhas da Associação Cristã de Moços, o que nos permitiria participar das atividades e frequentar as instalações, jogar nas canchas e ficar por dentro de tudo o que acontecia ali.
Assim, após a chegada do colégio, tirar o uniforme e comer alguma coisa, era imperativo passar a tarde por lá.
Foi ali que, jogando futebol de uniforme azul e com a meia de jogador até o joelho, a Rose me mostrou pela primeira vez o Juarez. Foi através do lance que rolou entre a Rose e o Juarez que ele veio a conhecer o Marcus e que nasceu uma amizade para a vida toda.
O Juarez trouxe uma nova perspectiva para o Marcus, que era de poucas palavras e sempre fechadão. A partir do jeito dele de ver o mundo, o Marcus amadureceu e aprendeu - e ensinou - coisas novas.


Fotos: Juarez e Marcus brincando de fotografia no contraluz na praia do Gasômetro, em Porto Alegre. Juarez Correa Machado Filho - ACM Zona Norte, julho 2011.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Marinheiro fede muito

Desfile Militar da Independência 2011
Aproveito o 7 de Setembro, a data da comemoração da Independência do Brasil, para contar uma história interessante e engraçada que aconteceu na nossa família.
Era a década de setenta, lá pelos anos 72 ou 73. O regime militar no governo do Brasil já operava desde 1964, endurecido ainda mais a partir do Ato Institucional nº 5, de 1968.
A Independência do Brasil de Portugal, o 7 de Setembro de 1822, era largamente utilizada pelo regime para o ufanismo e o estímulo ao “Ame-o ou deixe-o”, do Oiapoque ao Chuí, especialmente via rede Globo.
Mas, claro, nada disso jamais penetrou no imaginário das famílias, alheios que vivíamos a esses conceitos politizados.

O fato é que ano após ano, nós éramos submetidos à rotina da Semana da Pátria nas Escolas públicas. Batia o sinal e todos formavam as filas por turma. Para organizar a bagunça que se formava ali, as professoras ensinavam – quase sempre aos gritos – que deveríamos esticar o braço direito e tocar no ombro do colega em frente. Esse gesto era o de tirar a distância e era o que se seguia até o(a) primeiro da fila, que, coitado(a,) além de ser o(a) mais baixo(a) da turma, ainda não tinha ninguém na sua frente para cutucar. Ato contínuo, os alunos eram obrigados a cantar o Hino Nacional, a plenos pulmões, desde o Ouviram do Ipiranga até o último Pátria Amada Brasil, todos os dias, no pátio, uniformizados e em fila, no início de cada turno da escola.
Havia ainda mais algumas rotinas, as quais poderiam ter alguma seriedade e civismo para os adultos, só que não tinham nenhum significado para nós: uma delas era a sacrificar as aulas de educação física para ensaiar o desfile escolar na formação militar e, a outra, era a de cuidar o fogo simbólico.
Nos primeiros dias, as aulas sacrificadas eram apenas as de (educação) Física, porém, à medida que o dia do desfile ia se aproximando, vários professores eram convidados a ceder os seus períodos de aula para as repetições das marchas ao redor da quadra do Colégio. Assim, sem a menor alternativa, fazíamos as formações em filas e em colunas, no ritmo repetido do “esquerda-esquerda”, “esquerda-direita-esquerda” até que a aula acabasse, ou que chovesse, ou que algum professor mandasse a gente parar de marchar.
De tudo isso, o que não tinha o menor sentido – mesmo – era o tal de “Fogo Simbólico”. Acontecia de um professor interromper a aula da gente e chamar dois alunos, normalmente um casal, para ficarem parados no pátio, de pé, em posição de sentido, ao lado de um pilar de cimento que tinha uma latinha em cima com fogo dentro. Era isso. Simples assim.
Ali a gente ficava por alguns minutos, às vezes um ou dois períodos inteiros (perdíamos a noção do tempo), sem a menor idéia de o que era aquilo e do por quê de estarmos ali, cuidando aquele negócio. Essa era toda a nossa noção de civismo. Lembro até hoje de nunca ter entendido como eram feitas as escolhas dos alunos, por exemplo, sob qual critério era formadas as duplas e – principalmente – por quanto tempo. Na boa, acho que ninguém da minha geração jamais entendeu isso. Lembro, também, que a gente aprendeu rapidinho que era possível usar aquele tempo todo para conversar bastante com o colega que estava ao lado e que não era nenhum pecado capital se a gente se sentasse enquanto não tinha uma professora olhando...

Saindo da vida escolar, a Semana da Pátria interferia na rotina das famílias também, lógico. Desde meus primeiros anos de vida, nas manhãs do dia 7 de setembro, a gente sentava em frente à TV preto e branco, única da casa - e que tinha lugar de honra no meio da sala, e ficava esperando o desfile militar.

A TV Globo naquela época transmitia tudo, tu-di-nho. O desfile militar nas capitais dos Estados e na cidade de Porto Alegre, também. O mais bonito, claro, era o desfile militar de Brasília, o qual ia muito além das escolas: havia os Dragões da Independência, os soldados do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. Todos muito arrumados, muito iguaizinhos, um fascínio. Eu assistia a tudo com uma hipnose típica de criança e só saía dali após o fim da transmissão. Ah, esqueci de dizer que, á noite, no Jornal Nacional, passava a reprise da transmissão e lá iam as crianças para a sala assistir tudo de novo.
Ocorreu que neste ano aí de cima, eu acordei cedo para ver o desfile e a Lena me deixou sozinha para assistir a parada militar e tocou a fazer as tarefas da casa, passando inúmeras vezes pela sala e olhando para mim e para a TV por cima do ombro.
Numa des as idas e vindas para arrumar a casa, a Lena sentiu uma bruta dor de barriga e, creio que a caminho do banheiro, soltou um reconfortante peido, bem malcheiroso, sem dizer absolutamente nada e saiu de fininho, sem ser percebida.
Ao final da transmissão, saí da sala e fui brincar. (Acredito que tenha esperado para assistir ao filme “Independência ou Morte”, com o Tarcísio Meira no papel de Dom Pedro I, que repetia infalivelmente, todas as tardes do feriado de sete de setembro...)
Naquela noite, claro, na hora da reprise no “Jornal Nacional”, a Lena gritou: “Cristina, vem ver o desfile”.
A cena que se seguiu, então, foi inacreditável: eu entrei correndo na sala e olhei direto para a televisão. Parei e fiquei prestando atenção alguns segundos no que se passava, dei meia-volta e saí da sala a passos rápidos. A Lena, acostumada que estava ao meu olhar hiptnotizado para a parada militar, perguntou: “Cristina, tu não vai ver? Vem ver os marinheiro(s) que tu gosta”.
E eu, já de costas, respondi: “Esse não, mãe. Marinheiro fede muito!”

Foto: Transmissão desfile Independência 7 de setembro, Brasília - 2011.
e Marcus na sala de casa com a TV ao fundo, na Rua Julio Verne, 1972.

domingo, 28 de agosto de 2011

A Vera Regina...


Uma das pessoas que mais marcou as nossas vidas, desde pequenos, foi, sem dúvida, a Tia Vera. Uma das irmãs mais novas, a última que ficou ainda morando com a Vó Ecilda e o Vô Tinto na Assis Brasil, enquanto os demais já haviam saído para suas próprias casas.
Ela não era só uma tia. Era a alegria dentro da casa da Vó.
A Vera Regina tem uma das mais lindas gargalhadas que eu já ouvi. E essa risada costumava ecoar nos corredores da casa a qualquer hora.
As crianças corriam para perto dela, os adolescentes da época - Os Bichos -vinham pedir conselho e trocar uma idéia; e os adultos tratavam de vir conversar até tarde, ali, no quarto das gurias.
Naquele quarto simples, em que ela dormia em uma cama meio-casal, para nós era um grande pedaço do mundo, onde a gente podia sentir o poder dela.
Falo por mim, a Vera é a minha Madrinha, escolhida pela Lena para o meu batismo.
Ah, antes que eu apanhe: a Vera Regina é madrinha da Rosemary, também, ok? E um detalhe: foi escolhida por ela mesma, para a cerimônia de Crisma. (tá bem assim, Odibaí?)
Bem, retornando ao que eu contava:

Minha Dinda, ou, como ela gostava de ser chamada: minha Dindinha queridinha do coração.
A Vera Regina é a melhor amiga da Lena e sempre frequentou a casa dos Feio de Lemos, fazia da nossa uma segunda casa. Por isso sempre a tivemos sempre muito presente. Acontecimentos da vida dela refletiam direto na nossa, e vice-versa.

É importante registrar aqui o quanto a Vera Regina (na tradução: a Verdadeira Rainha, como ela me disse um dia) se mostrou diferente de todo o restante dos irmãos e irmãs.
Desde pequena demonstrou uma personalidade marcante, com opiniões diferenciadas e um certo talento para lidar com as coisas da vida tão destoante dos demais que, na maioria das vezes, era tida como a louca da família.
Quando guria, ela ria bastante desse rótulo.
O fato é que, com cerca de 9 anos de idade, a Vera começou a ter visões. Visões de fatos, acontecimentos, alguns acontecidos, outros por acontecer. Algumas pessoas conhecidas, outras não.
A Vera descobriu, desde pequena, que era uma médium madura, poderosa e bastante desenvolvida. (Aos navegantes: Médium é um termo dicionarizado que significa, de modo resumido, uma pessoa apta a ter comunicações com espíritos, que passa a mediar os contatos entre esse e o outro mundo, invisível para a maioria)

Dessa maneira, segundo ela me contou, sendo de um lar de pai e mãe católicos, sentiu a necessidade, ou melhor, atendeu ao chamado e passou a frequentar a Casa Espírita Paz e Amor. Se não me engano, ajudada pela Dona Helenita, nossa maravilhosa vizinha.
Precisou fazê-lo às escondidas, é claro. Após algumas visitas, foi apresentada ao grande Irmão José Simões de Mattos (para nós, Irmão Mattos) e mudou o curso da própria vida.
A partir desse abençoado encontro, a Vera deu início aos seus estudos da doutrina espírita, das obras básicas de Allan Kardec e começou o aprendizado necessário para disciplinar todo esse conhecimento que ela trazia do berço.
Mais um esclarecimento: existem variados tipos de mediunidade. Algumas pessoas vêem, outras ouvem perfeitamente as vozes dos espíritos, outras ainda sentem determinadas sensações, como revelações que ficam gravadas nos locais em que aconteceram, etc.
A Vera, desde cedo, sentia e convivia com mais de uma dessas manifestações mediúnicas.

E foi dessa maneira que ela soube, desde menina, como seriam algumas coisas na vida dela e nas vidas das pessoas que a rodeavam.
Quando a Lena engravidou do Marcus, ela disse para a irmã quem ele era e como seria (e que não seria fácil).
Quando ela engravidou novamente, a Vera explicou que seria uma menina e que nós nos conhecíamos de muitas outras passagens. Na verdade, em mais de uma ocasião, ela me olhou fundo nos olhos e disse: durante anos eu te esperei nascer, minha amiga.

Numa manhã ensolarada de sábado, entrei no quarto dela e me sentei em uma mesinha que havia bem no centro da peça, coberta com uma toalha e com uma cadeira de cada um dos lados. Sobre a toalha havia um baralho cigano, o qual ela usava para atender algumas pessoas, quando o Vô deixava. Abri o baralho e fiquei lendo as figuras coloridas e interessantes que pareciam mexer tanto com as pessoas que iam conversar com ela. Ela entrou, sorriu, mexeu comigo e me fez algumas perguntas, às quais, supreendentemente, eu parecia ter respondido certo. Ela brincou comigo que ainda era cedo, mas que ela me ensinaria o que sabia.
A bem da verdade, segundo ela me contou, anos mais tarde, o baralho era mais um apoio para as pessoas que vinham consultar... ela fazia a leitura através da voz do espírito que se sentava ao lado e contava tudo o que ela precisava saber...

A Vera acompanhou o nascimento do Marcus e o meu, acompanhou cada passo do casamento da Lena, a separação do casal Maria Helena e Mário Feio de Lemos e testemunhou de perto toda a luta da Lena para criar o casal de filhos e sustentar a casa.

Vamos voltar a essa figura incrível muitas vezes. Por ora, que Deus abençoe nossa amada Vera Regina!

Foto: Vera sorrindo com os dois filhos pequenos, na VARIG

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Paixão pelo Volante, desde a infância

Marcus pilotando na SPASSO


Para quem teve o prazer de conviver com o Marcus e o de sentar ao lado dele atrás de um volante, vai entender perfeitamente o que vamos falar aqui: uma das grandes paixões dele era(é) o automóvel.

Apaixonado desde pequeno pelo Speed Racer, um desenho animado japonês, ele acompanhava o seriado, desde a musiquinha de abertura até a máxima fidelidade, isto é, assistia até o final a todos os episódios, mesmo repetidos.
Para o Marcus, o Mach 5 não era apenas um carro. Ele tinha vida própria e personalidade, poderia interagir com ele. Ele enchia a boca e fala "Mééééétchhhhh cinco"...
Em várias ocasiões, era possível encontrar desenhos do carro do personagem Speed Racer, o fabuloso Mach 5, nos cadernos escolares do Marcus.
Para quem não via o desenho: o carro saltava, andava sobre duas rodas e protegia sempre o piloto de qualquer acidente. Uma perfeição!!!
Ele desenhava super bem e analisava cada detalhe, a ponto de reproduzir muito bem o carro. E não eram poucas ilustrações. Havia desenhos do Mach 5 de frente, de visão lateral, de sobrevoo, da traseira e do próprio cockpit, alguns até do ponto de vista do piloto, com as mãos na direção.
O Mach 5
O carro, indiscutivelmente, levava o Marcus à loucura, sem exageros. Ele tem (teve) o brinquedo Autorama da Estrela, guardado a sete chaves, em perfeitas condições. Nas nossas corridas de velocidade, mesmo que o carrinho dele fosse azul e quadrado, atendia pelo nome de “Mach 5” (o meu era um Porsche vermelho, descobri recentemente).


Ele gostava de dirigir, de estar dentro de um carro e das máquinas, em geral. Não foi difícil a ele se relacionar com os compressores e com a manutenção industrial, quando concebeu e montou a SPASSO Compressores, primeiro apenas um número de telefone e a entrega de peças, depois o aluguel da sala no Centro de Porto Alegre, na Júlio de Castilhos e, por fim, a enorme sede de dois andares na Rua São Nicolau, 903 e aquisição do terreno no Distrito Industrial de Cachoeirinha.

Claro, não se pode esquecer que a presença do Renato Pinheiro foi vital nesse processo. Foi o Renato que despertou nele essa ansiedade de conhecer e mexer nas máquinas e, sem dúvida, foi a ponte do Marcus para Terabítia.

Na foto que ilustra esse blog, além da imagem do próprio herói Speed Racer, como piloto de corridas e do carro, o Mach 5, está o Marcus executando um dos trabalhos mais prazerosos que a SPASSO fez: a manutenção do compressor de uma empresa de brinquedos, simulador de corridas de automóvel.

Um pouco antes de deixar o corpo físico aqui na terra, tive o imenso privilégio de ver o brilho nos olhos dele quando puxei o assunto do então recente lançamento do filme Speed Racer. Foi como um jato de fluido, de energia vital mesmo!. Ele se sentou no sofá, pegou as revistas que eu levei sobre o assunto e tagarelamos alegremente um bom tempo.
Ficou feliz e planejando o dia em que iria ao cinema assistir o filme Speed Racer e, também, com a mesma empolgação, ao filme do Homem de Ferro (Ironman).

E nasceu a Carolina... afilhada do Marcus

Casa da família na Avenida Assis Brasil, aparência e moradores atuais - Foto de Juarez Machado

Pouca gente sabe, mas ainda adolescente, aos 13 anos, o Marcus ganhou a responsabilidade de ser padrinho de um nenê novo na família. Em 15 de agosto de 1977, no meio do inverno gaúcho, nasceu a Carolina da Silva Pinheiro, filha do Renato Pinheiro (grande figura na vida do Marcus) e da Vera Lúcia da Silva Pinheiro.

Para quem viveu e só para quem ouviu falar, cabe relembrar: a casa da Vó Ecilda, na Avenida Assis Brasil, 911, foi uma conquista do Seu Joventino, lá na década de 50 e passou a ser um ponto forte de união do clã Pinheiro.

Como é bastante comum nas famílias brasileiras, o patriarca e dono da terra – no caso o Seu Pinheiro, chamou para perto os filhos e filhas que, já casados e com filhos, não tinham sua casa própria e passaram a morar no mesmo pátio.

Na tarde fria do dia 14 de agosto, a Vera Lúcia deu baixa no Hospital Nossa Senhora da Conceição, e chegou a notícia do nascimento do nenê. Naquele tempo, o sexo do bebê só era conhecido no nascimento, e nasceu uma menina: a Carolina.
Uma alegria para todos, aquela bonequinha de pouco mais de 40 centímetros, ficou uns dias ainda no hospital antes de vir para o IAPI.

A Carolina foi batizada em casa e teve o privilégio de ser apadrinhada pela Rosemary e pelo Marcus. Formalmente, ou seja, religiosamente, era afilhada do Vô e da Vó (é isso, né Carol?)

A casa da Assis Brasil – como era
Uma casa modelo do IAPI, construída e entregue pelo próprio Getúlio Vargas aos trabalhadores da época, pelo critério do número de filhos. Era composta de sala, cozinha, banheiro, três dormitórios, área coberta e um amplo depósito no pátio, em um terreno bastante grande em relação aos padrões de hoje.
Esse blog já referiu http://marcusfeiodelemos.blogspot.com/2011/05/casa-dos-pinheiro-em-porto-alegre.html, que o Vô Joventino fez uma escolha na entrega das chaves. Escolheu a melhor casa, sem o espaço de garagem, mas recebeu a compensação de um terreno de 50 metros de comprimento, com 25 metros – acho – nos fundos.

Para abastecer o fogão à lenha da Vó Ecilda, o estoque de tocos de madeira, de gravetos e galhos era a casinha da lenha, uma casa muito bonitinha, construída sob encomenda e com muito amor pelo Tio Saul para atender as necessidades de sua mãe. Essa casa foi instalada bem lá nos fundos do fundo, atrás até da casa do Pelé, um dos primeiros cães Dobermann que viveram por lá. (Sobre esse carinho especial entre mãe e filho, que havia(há) entre a Ecilda e o Saul, esse blog vai tratar em outras postagens, ok?)

O Cortiço

Vista da Assis Brasil, a casa, de três dormitórios, era do vô e da vó. Contudo, a partir da porta dos fundos, o quintal foi mudando, ano a ano. Primeiro a Sônia, filha mais velha – entre as mulheres – e segundo a Lena: a “queridinha do Vô Joventino”, incorporou o quartinho dos fundos que existia e construiu uma casa completa, no meio do pátio.
Depois, o Renato, filho mais novo e boêmio desde guri, ainda morava com os pais. Quando a paixão pela nova namorada bateu forte, o Renato trouxe a Vera Lúcia para morar com ele. Em um primeiro momento, enfrentou os narizes torcidos dos irmãos e trouxea namorada para morar com ele no “quarto do meio”, ou quarto dos guris, dentro da casa da Vó.
Acredito que tenha sido um pouco pressionado pelos demais, mas o fato é que construiu umas peças no fundo do pátio, colocando para o lado a casinha da lenha e passou a morar ali com a nova família.

Convidada por último, a Lena mandou construir mais duas peças e recebeu os dois quartos que o Vô e a Vó não utilizavam para serem um quarto e sala. A fachada da casa ganhou uma porta lateral e nasceu a casa dos Feio de Lemos – ou seja, a Lena veio morar com os dois filhos, ato que repercutiu muito na vida do Marcus.

Foto: Cortesia do fotógrafo e grande amigo do Marcus, Juarez Machado   

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Chegada do bebê, ou, como a Lena dizia: A cama quebrada

Lena e Cristina, março de 1968






A Lena contava esta história com uma cara muito fechada, de repreensão.
Ela retornava do hospital Getúlio Vargas, após o nascimento da filha menor, a Cristina.
Sempre que uma parturiente retorna para casa, são precisos alguns cuidados, especialmente no que toca à higiene e ao conforto da mulher.
Era difícil para a Lena lembrar, pois houve bastante sofrimento físico para ela nos partos dos dois filhos.
É natural que se tente manter a recém-chegada mais protegida, sem realizar muito esforço físico e acomodada sobre lugares macios, como sofás, camas e almofadas.
O que a Lena contava, e braba, é que a cama do casal havia sido quebrada meses antes do parto da nenê e que, ao sair para o parto, ela havia tinha pedido diretamente ao pai, o Mário Feio, que desse um jeito naquela cama.
Certamente ela imaginava que, quando voltasse, ele teria realizado essa – e outras tarefas – necessárias para o bem estar da família.
Bem, acontece que o Mário nunca teve essa formação específica e, na certa, criado desde pequeno em colégios internos, nunca viu como agia um verdadeiro chefe de família.
Para encurtar a nossa já pequena história, a Lena passou alguns dias hospitalizada e voltou com o novo bebê nos braços. Primeiro, passaram na casa da Sônia, onde o Marcus esperava a chegada da mãe e do irmão.
Na empolgação da sala da casa da Sônia, na Rua Morretes, a primeira surpresa: o Marcus e a Rose, a prima mais velha, filha da madrinha, corriam um atrás do outro, com um pedaço de pau de mais ou menos uns 70 cm na mão. Na perseguição, o Marcus tropeçou e caiu com o pedaço de madeira embaixo do queixo, que ficou ali, cravado na pele, pendurado quando ele se levantou...

Essa cicatriz permaneceu no queixo dele para sempre, e na alma da Lena também.
Quando ela terminava esse relato, ele levantava a cabeça e mostrava o risco que ficou ali, embaixo do maxilar. Nunca se soube o que ocorreu ali, se um tropeço ou um empurrão, mas o filho dela ficara marcado e era com isso que ela se importava, lógico.

E a cama quebrou

Passado o susto e atendida a emergência médica, a família, agora com quatro integrantes, retornou à casa, na Travessa Jaguarão, em que moravam.
Feliz pela chegada da mulher e do retorno da vida ao seu normal, o Mário nada disse à esposa sobre suas tarefas agendadas.
E foi assim que, após se acomodarem aqui e ali, ela sentou na beira da cama (como se vê na foto) para amamentar a nenê e descansar um pouquinho, após um dia exaustivo e cheio de novidades e, como vocês já devem estar antecipando, houve um barulho de estrondo e no minuto seguinte, a Lena caía sentada sobre a madeira da cama, que desabou inteira...
A cama quebrada se desmontou inteira, com a Lena em cima e a criança no colo.
Tendo de escolher entre se apoiar para não se bater ou segurar a nenê firme nos braços, a Lena – lógico – optou pelo segundo, e se machucou, bastante...

Não é preciso ser vidente para imaginar a bronca que o Mário Feio ouviu, né?
O Marcus? deve ter presenciado tudo, observando em silêncio essa lição.

Maria Helena Pinheiro, uma jovem adulta

Maria Helena Pinheiro em 1963-1964

Recordação de Aniversário do Alemão

Foto cedida ao blog do Marcus pela Tia Marli Pinheiro


Esta foto veio dos alfarrábios da Tia Marli e mostra um momento da família do Saul Pinheiro, entre amigos, comemorando o aniversário do filho Sandro Dal Bosco Pinheiro.
Da esquerda para a direita: em pé, Tia Sônia (visão parcial do rosto), Vó Ecilda com a pequena Silvana Dal Bosco Pinheiro no colo.
Não consegui identificar as outras duas adultas em pé, mas imagino que a da direita, da qual temos a visão parcial de um casado rosa, seja a Magda, grande amiga da familia e madrinha do aniversariante.
E, das crianças, o Sandro em destaque, sempre muito bonito aquele Alemão, completando três anos (acho, pelo tamanho da Silvana) e, do lado dele, acho que é Letícia, filha da Magda e do Catarina (Carlinhos), padrinho do Sandro e grande amigo do Tio Saul, também.
O fotógrafo deve ter sido o próprio Saul, o mais versado nestas artes fotográficas, como já mencionamos antes aqui no blog do Marcus.
Imagino que o local do aniversário tenha sido o apartamento em que eles moraram, ali na Dom Diogo de Souza, rua da faculdade São Judas Tadeu, onde moraram nos primeiros anos das crianças.

Em Santo Ângelo

Catedral de Santo Ângelo, Praça Pinheiro Machado - Fonte:  Santo Ângelo 302 anos de história

Acho que ninguém(ou muito poucos)sabe(m)que a família do Marcus morou um tempo no interior do Estado, mais precisamente na Região das Missões, em Santo Ângelo.
Em razão de uma oferta de trabalho ao pai dele, Mário Feio de Lemos, a família toda se tocou de mala e cuia para essa distância: 459 km de Porto Alegre.
Aqui no Rio Grande do Sul, antes de ser advogado, o pai dele, Mário atuou na VARIG, na área de compras, na década de 60, como Representante da Indústria de Alimentos Quaker e, muitas vezes, como vendedor.
Éramos pequenos e muito pouca coisa eu lembro em uma sequência que tenha lógica para poder contar aqui...
Sobre a mudança para Santo Ângelo, o Mário Feio e a Lena foram primeiro e, segundo minha lembrança, ficamos aos cuidados da Vó Ecilda, pela primeira, última e única vez.
Quem conhece(u) a Maria Helena sabe, ela não tinha por hábito deixar os filhos pequenos com alguém para ir fazer alguma coisa, especialmente com a Vó, a quem ela nunca queria dar trabalho. Ela sempre levava os filhos junto, ou, em caso de não poder levá-los, simplesmente deixava de ir.
Depois de terem encaminhado tudo por lá, voltaram para nos buscar.

A viagem a Santo Ângelo

Recordo que embarcamos à noite em um fusca branco e que pegamos a estrada. O Marcus com cerca de 6 anos e eu com 3, mesmo vestidos e com calçados nos pés, ganhamos nossos travesseiros e uma coberta por cima. Assim, acomodados, pegamos no sono confortavelmente lado a lado, dormíamos boa parte da viagem deitados de todo o comprimento no banco de trás.

Duas coisas que mais marcaram aquela viagem, e outras que fizemos de Porto Alegre a Santo Ângelo, foram o tempo da viagem (uma eternidade!) e as marcas da terra vermelha nos vidros do fusca.
Quando chovia, então, o carro começava a derrapar e dançar a parte traseira, enquanto espirrava para todos os lados aquela massa vermelho. Essa era a visão que eu tinha da viagem: o vidro traseiro do fusca no fundo escuro da noite, e a camada grossa de barro vermelho do lado de fora.

Não sei muito bem o tempo que a família passou por lá, imagino que chegou a um ano, talvez um pouco mais.
Foi a única vez em que a família Feio de Lemos morou em uma casa tão bonita e tão grande. Era uma casa chique, com dois andares.
Mais do que isso: era uma bela casa com sacadas, jardim e pátio. Foi a oportunidade em que a Lena e o Mário puderam oferecer um quarto individual para cada um dos filhos.

Foi nessa fase da vida do Marcus que ele conheceu o amigo que mais marcou a infância dele, o Aramin. Marcou a tal ponto, que depois de adulto, pesquisou na internet e tornou a voltar a Santo Ângelo algumas vezes, em busca de retomar aquela amizade que ele prezava tanto. Sobre o Aramin e sobre esse encontro, vamos contar em outro momento.

Foto da Lembrança Escolar do Marcus, tirada na Escola em Santo Ângelo, 1971

Neste, voltemos ao fato de que lá o Marcus iniciou a vida escolar. Lá ele vestiu o uniforme da escola pela primeira vez (foto) e, de lá ele tinha uma recordação que conto agora:

Como em todas as cidades pequenas, existia uma praça no centro. E em torno dessa praça, aos domingos, passeavam as famílias para sua distração. Passeavam a pé e bem vestidos os moradores, moradoras e crianças, alguns por ali até passeavam de carro.
O Marcus tinha uma lembrança muito forte desse período em que vivemos lá em Santo Ângelo.
Ele já era um menino e possuía o seu próprio círculo de amigos, frequentando o jardim de infância e achava legal também fazer aquele trotoir na praça, aos domingos, para ver e ser visto.
Do que ele nunca mais esqueceu, e quem conviveu com ele pode imaginar o quanto isso pode ter sido marcante, foi que, apenas durante aquele (curto) período, em toda a sua infância, que os passeios puderam ser a bordo de um carro.
Ele era um dos poucos guris que tinham carro e (olha só), ele me disse que tinha o maior orgulho de ver a mãe dirigindo! Achava chique ter uma mãe motorista, diferente das outras.

Foto: Santo Ângelo 302 anos de história
Foto da colunata da Catedral de Santo Ângelo, Praça Pinheiro Machado, de Ander Vaz

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Feliz Aniversário, Marcus!


Se estivesse ainda como nós, aqui na Terra, o Marcus, neste 23 de junho de 2011, completaria 47 anos de idade. E, nestes dias de chuva e de calor abafado, fora de época, já teria arranjado algum lugar para pescar, reavivar as ideias e descansar a cabeça, sempre cheia de pensamentos e de planos.
Por isso, hoje, em homenagem a esse homem menino que nem sempre foi compreendido por quem o rodeava, fica essa foto com esse sorriso maroto de quem fisgou o maior peixe de todos, provavelmente o mais difícil.

Parabéns, Marcus. Muitas felicidades. Que Jesus te abençoe, hoje e sempre, onde quer que estejas, com certeza na companhia de espíritos de muita luz.
Nós, aqui da Terra, continuaremos a te amar, sempre, com carinho e com o tempero da saudade, que aumenta a cada dia.
Paz e luz, amigo, um dia daremos pessoalmente o abraço que tanto mereces, sentiremos o cheiro do teu perfume de perto enquanto ouviremos o teu riso pela nossa chegada.

Junho - 2011

quinta-feira, 16 de junho de 2011

O preço da bicicleta

Marcus e a bicicleta

Todo mundo que conviveu com o Marcus sabe que ele torcia pelo Grêmio. Sim, como está descrito no perfil, ele era Gremista, e fanático.
Sem precisar ir a jogos ou andar fardado, mas, acima de tudo, ele não gostava do Inter. Não do “Internacional”, e sim do Colorado e de colorados. Isso mais do que tudo.
Por essa razão, fica difícil a todos os amigos e amigas imaginarem que ele um dia foi colorado. Foi convencido e praticou essa arte durante algum tempo. Abanou bandeira, foi ao Beira-Rio e tomou refresco colorido vendido no campo em garrafinha de plástico (dessa eu sou testemunha ocular).

A história do “lado colorado do Marcus” é simples e fez parte da formação da personalidade dele.
Tudo começou quando ele, e a irmã, eram pequenos, e por influência do pai.
Até agora já contamos (neste blog) que o Mário Feio, movido pela paixão e por algo mais, se tocou de lá de Fortaleza para conhecer a Lena e que o resto de suas vidas passaram aqui no Sul.
Em consequencia desse gesto e das condições em que vivíamos, jamais tivemos contato com a família (ou com a história) do nosso pai., salvo raríssimas exceções, de uma visita nossa lá e de umas visitas de uns tios aqui e acolá.

E, como não poderia deixar de ser, o Marcus nasceu e cresceu um Feio de Lemos entre Pinheiros e se tornou mais Pinheiro do que ele próprio imaginava. Por essa e por outras razões, era torcedor gremista como a maior parte dos homens da família, embora o culto ao futebol fosse bem menor na época da infância dele.
Cabe lembrar que essa nossa história se passa no início da década de 70 e que foram anos duros para o Grêmio Foot-Ball Portoalegrense. O Inter, ou melhor, o Colorado ganhava todas, ano após ano. Se essas vitórias, uma trás da outra, especialmente sobre o Grêmio, eram uma desolação para qualquer gremista, também fez crescer uma legião de colorados e de novos colorados. Foi assim que o Mário Feio, Pai do Marcus, veio para o RS e se tornou torcedor do Colorado. Foi assim, também, que ele veio com toda a sorte de propostas e ofertas para que os filhos se tornassem colorados também.
Com a irmã não foi nada difícil, já nasceu colorada e nem sabia a diferença, na verdade (pobrezinha).
Teve até uma vez em que ela esteve frente a frente com o Figueroa e – epa essa é outra história...

Voltando a vaca fria... o pai do Marcus – e o Inter, com as suas vitórias - vinham fechando o cerco em torno da ideia de virar colorado (isso é possível??? hehehe, brincadeirinha). Até que o Marcus, acho que ali pelos 6 ou 7 anos, quis uma bicicleta.
A vida naqueles tempos não era muito fácil e as bicicletas eram presentes bastante especiais. Dignos de serem ofertadas em datas mais especiais ainda, como nos dias do Natal ou do aniversário. E custava caro. Mesmo.
Para uma criança dos anos 70, no Brasil, ganhar presentes era raro e a gente tinha de passar por algumas coisas como a fase um: pedir o presente, fase dois: convencer os pais da necessidade do presente ser aquele mesmo (ainda mais tão caro como esse) e pela incrível fase três: esperar, esperar e esperar (quase) uma eternidade até chegar essa data em que fosse possível ganhar o presente.
Como vocês já adivinharam, num dado momento, o pai do Marcus acabou aceitando dar a ele a bicicleta que ele tanto sonhava. Só que, em troca, o Marcus teria de ficar colorado, só que a parte de ficar colorado vinha imediatamente.
O novo colorado tinha de provar que o coração tinha ficado vermelho para então mostrar ao pai que fazia jus ao presente que lhe fora prometido.

O Marcus, por fim, viveu a sua fase de torcedor colorado. Vestiu camiseta e comemorou os gols. Juntos visitamos o Beira-Rio para uma partida do Inter contra não-sei-quem, num distante domingo dos primeiros anos daquela era vermelha.
Convencido, e feliz, o Mário Feio atendeu ao pedido, isto é, deu a bicicleta ao filho. O Marcus ganhou de presente a sua Monark, ou melhor, uma Monaretta “dobramatic” vermelha.
Pelo sorriso na foto, dá para perceber que é sobre essa bicicleta dos sonhos que ele está apoiando o braço.
O final da história é mais simples do que o começo: realizado com o presente e sem precisar mais agradar o pai para atingir o objetivo, o Marcus deixou de ser colorado e voltou a ser gremista, de imediato, sem nenhum peso na consciência pelo artifício.
Dali a alguns anos, conseguiu até mesmo ajuda para pintar a bicicleta e colocou, de uma vez por todas, bem longe de si a cor vermelha. Para sempre.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Primos Pinheiro e Feio de Lemos na casa da Vó Ecilda - provavelmente 1974

Tarde de domingo na casa da vó, reunião de família até com primos de Caxias do Sul

Em Caxias do Sul o Início da Linhagem dos Pinheiro

Dona Ecilda e os primeiros filhos, com a Mãe, Saturnina Flores


A foto em preto e branco mostra um singelo momento da jovem mãe com os primeiros filhos. Chegaram  a um total de nove, seis homens e três mulheres.  Natural da terra mais fria do Brasil, São Joaquim, em Santa Catarina, a Dona Ecilda veio morar em Caxias do Sul ainda nova.
Certa vez me contaram que conheceu e ficou amiga de uma moça no colégio de freiras, no qual estudou os primeiros anos do primário. A Vó tinha muito boas lembranças destes anos de estudo e muita saudade das experiências daquela época. Tinha grande vocação para estudar e seguir alguma outra carreira, no campo da intelectualidade ou da pintura, talvez. Aliás, lembro de um belo quadro pintado por ela que jazia pendurado na parede, lá no IAPI. Uma vez perguntei a ela de quem era a pintura e ela respondeu, sem me dar muitos detalhes, que tinha pintado no colégio. Mas, até para uma pequena guria curiosa como eu era, deu para perceber a melancolia na resposta e o olhar que se demorou só alguns segundos olhando para aquela paisagem, mostrava um quê de tristeza silenciosa.
Mas, voltando à história das nossas vidas, a moça que a Vó conheceu (eu sempre ouvi chamarem de "Tia Rola"), como quis o destino, era irmã do (então jogador de futebol do Esporte Clube Juventude) Joventino. Apesar de o fato de ser jogador não ser nada glamouroso como nos tempos atuais, sabia-se que era um jovem solteiro e bonito.
Do romance entre o Joventino e a Ecilda, infelizmente, sei muito pouco. Sei apenas que a Tia Rola acabou promovendo a curiosidade entre os dois para que se conhecessem, o que segundo me contaram, foi muito dificultado pela extrema timidez do Vô Tinto. Certa ocasião, inclusive, ele ficou sabendo que ela estava entrando na casa deles para visitar a irmã e (possivelmente) para conhecê-lo. Tomado pelo nervosismo e, sem poder conter o pânico, ele pulou a janela do quarto, saiu pelo pátio e fugiu para a rua, apenas para evitar o encontro...
Não sei quanto tempo isto durou, embora quase possa ouvir a risada da Tia Rola por causa disso. O fato é que aqueles dois jovens acabaram se conhecendo e que a Ecilda foi o grande amor do Vô Joventino. Venceu a timidez e casou com aquela moça “muito bonita”, como ele dizia.
Na foto, em Caxias do Sul, em que  nasceram os primeiros filhos da Dona Ecilda , ainda muito jovem, no início dos anos 40, com a pequena Sônia Maria nos braços. Em pé, da direita para a esquerda, estão o filho mais velho Raul e o Saul Pinheiro. Em pé, muito séria como sempre vimos na infância, a Saturnina Flores, mãe da Ecilda, a Vó Saturna.
Sobre a Bisavó do Marcus, Saturnina, há algumas históris curiosas e muito peculiares que vamos contar também por aqui, com a ajuda daqueles que conviveram com ela.

sábado, 4 de junho de 2011

As vitrines das Lojas Renner do Passo D'areia


Para quem viveu a década de 70 na Zona Norte de Porto Alegre, havia uma atração diferente. Algo inacreditável para os dias de hoje, em que há acesso ilimitado às imagens coloridas, vindas de qualquer parte do mundo, todas ao alcance de um clic de mouse.
Aliás, nunca é demais salientar: havia muito menos oferta de desenhos animados, de programas de televisão, de filmes no cinema e, sobretudo, menos apelo de propaganda.
Eram as vitrines das Lojas Renner, localizada no Passo D'Areia, um atrativo que podia ser visto de graça, durante todos os dias do ano.
Sempre modificadas na chegada de cada estação do ano e, principalmente, antes das principais datas comemorativas, como o Dia da Criança, Natal, Dia das Mães, Páscoa e outras datas que, desde cedo, o comércio usa para marcar a cabeça das crianças.
As vitrines das Lojas Renner do Passo D'Areia, naquela época, eram uma profusão de cores e de efeitos que ninguém deixava de notar, de observar atentamente.

Havia grandes e largas vitrines, que iam de uma quadra a outra. Eram tão bonitas que não chamavam a atenção apenas das crianças. Os adultos – em especial as adultas, como a Lena e a Vera, mãe e tia do Marcus, quando o assunto estava bom, saiam à noite para caminhar ao redor da quadra e para ver de perto tantas cores e, não raro, bonecos em movimento em cenários coloridos.

As vitrines eram a principal atração daquele fim de curva da Assis Brasil, ali, na sequencia da rua, para quem vinha do Esporte Clube São José (Zequinha).
A Loja Renner era imensa naquela época, vendiam desde móveis e eletrodomésticos até roupas e brinquedos, ocupava vários andares.
As vitrines começavam nas laterais do prédio da loja, vinham desde as janelas ovais nas laterais da Rua Santa Catarina e da Rua Piauí, até os largos painéis de vidro em toda a parte da frente da quadra que ocupava o estabelecimento, com frente para a Assis Brasil.

Ali, havia um outro detalhe, inesquecível aos nosso olhos de criança: a loja possuía uma grande entrada na frente e mais à direita, uma entrada menor, entre as duas, na parte da frente da loja, as vitrines formavam um túnel, proporcionante um caminho de cores, de luzes e de brilho, que a gente nunca cansava de passar.

As luzes permaneciam acesas durante toda a noite e tornavam-se um atrativo especial, que podiam ser vistas de longe, mesmo das janelas das casas da “meia-lua”, que era o nome pelo qual chamávamos aquela praça em forma de meia-lua que fica defronte a loja e onde ficava a casa da D.Ecilda.


Essas imagens incríveis marcaram a infância de todos e acredito que não haja um dos primos, netos e netas da D. Ecilda e do Seu Joventino, que não possua a sua foto posando diante das vitrines das Lojas Renner do Passo D'areia. Essa na foto é a Cristina, fazendo a pose. O Marcus possui as dele, a Rose também. Acredito que até os primos de Caxias do Sul, tenham as suas.

Na segunda foto, a visão atual do prédio da Loja da Renner, em que funciona depósito e administração da empresa. Essas é a vista da lateral, para quem vem da Rua Santa Catarina e foi fotografada com carinho e saudade pelo Juarez (http://juarezfotografia.blogspot.com), o melhor amigo do Marcus, parceiro de muitas experiências e aventuras, e de quem, certamente, ainda vamos falar muito neste blog.

A maninha demorou a crescer

Cristina, em frente a casa da D. Ecilda, IAPI

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Insubmisso






Existe um detalhe muito bonito e romântico, que tive notícia aconteceu na vida dos nossos avós, Joventino e Ecilda. Era o início do século XX, muitos eventos acontecendo em todo o mundo e no Brasil não era diferente.
Se os brasileiros dos dias atuais conhecem pouco de seus direitos e de seus deveres, imaginem o que sabiam os das três primeiras décadas do século passado.
Dito isto, voltamos de novo no tempo e lembramos que o Vô Joventino e a Vó Ecilda se conheceram pelas mãos da Tia Rola e que acabaram se apaixonando e casando, lá em Caxias do Sul, nos anos 30.
Da história me faltam alguns detalhes, os quais prometo buscar mais a fundo com aqueles que souberem um pouco mais e prometo contar aqui, logo que possível.

Bem, se não há muito o que contar a respeito da "casca", passemos então ao "miolo", que é o que me trouxe até aqui: o Joventino, Vô Tinto, não era mais do que um guri quando se casou com a bonita mulher por quem se apaixonou.
Convém lembrar que o Exército Brasileiro era diferente e regido por regras que hoje pareceriam um tanto absurdas. Convém lembrar, também, que não era do conhecimento do Joventino que, aos dezoito anos de idade, deveria se apresentar a um posto do Exército e se alistar para o serviço militar obrigatório. Não sabia e nem nunca lhe foi dito.
Logo nos primeiro anos de vida em comum, os filhos foram chegando: o Raul, o Saul, a Sônia Maria... A Dona Ecilda trabalhava de sol a sol para prover a educação, a limpeza e o alimento de toda a trupe e o Seu Joventino batalhava com a armas que tinha, de homem da época, para o sustento da família.
Os anos, assim, se passaram e as coisas aconteceram de maneira bastante rápida: em um belo dia, o Jeep do exército encostou diante da casa dos Pinheiro e desceram uns homens uniformizados, trazendo nas mãos um papel que, segundo eles, mandava levarem consigo, preso, o Sr. Joventino "Zito" Pinheiro.
Apesar do pânico e do nervosismo da esposa e dos filhos, levaram preso o pai daquela família para que, segundo a lei, cumprisse a suas obrigações de brasileiro. Mesmo com filhos pequenos (e, se não me engano, com mais um a caminho), o Vô Tinto foi levado para o alistamento obrigatório, ou seja, foi preso e conduzido para servir ao Exército Brasileiro, na condição de "Insubmisso" por não ter se apresentado voluntariamente na idade devida.
Para agravar ainda mais a situação, foi prestar o seu serviço à pátria bem longe de casa.
Desse período doído e que deve ter sido extremamente sofrido a todos, há um registro muito bonito, que acompanha a família desde aquela época, uma verdadeira preciosidade: uma carta que o Joventino escreveu para a esposa Ecilda, enquanto estava no serviço militar.

O Vô Tinto e o Esporte Clube Juventude, de Caxias do Sul

O time do Juventude na década de 30. O segundo da fileira de trás, em pé e sem touca, é Joventino Zito Pinheiro, em Caxias do Sul
Esporte Clube Juventude foi a primeira experiência do Joventino no mundo





Da esquerda para a direita, o sexto homem, magro e retraído, Joventino Pinheiro, usando a touca que virou a sua marca registrada