domingo, 28 de agosto de 2011

A Vera Regina...


Uma das pessoas que mais marcou as nossas vidas, desde pequenos, foi, sem dúvida, a Tia Vera. Uma das irmãs mais novas, a última que ficou ainda morando com a Vó Ecilda e o Vô Tinto na Assis Brasil, enquanto os demais já haviam saído para suas próprias casas.
Ela não era só uma tia. Era a alegria dentro da casa da Vó.
A Vera Regina tem uma das mais lindas gargalhadas que eu já ouvi. E essa risada costumava ecoar nos corredores da casa a qualquer hora.
As crianças corriam para perto dela, os adolescentes da época - Os Bichos -vinham pedir conselho e trocar uma idéia; e os adultos tratavam de vir conversar até tarde, ali, no quarto das gurias.
Naquele quarto simples, em que ela dormia em uma cama meio-casal, para nós era um grande pedaço do mundo, onde a gente podia sentir o poder dela.
Falo por mim, a Vera é a minha Madrinha, escolhida pela Lena para o meu batismo.
Ah, antes que eu apanhe: a Vera Regina é madrinha da Rosemary, também, ok? E um detalhe: foi escolhida por ela mesma, para a cerimônia de Crisma. (tá bem assim, Odibaí?)
Bem, retornando ao que eu contava:

Minha Dinda, ou, como ela gostava de ser chamada: minha Dindinha queridinha do coração.
A Vera Regina é a melhor amiga da Lena e sempre frequentou a casa dos Feio de Lemos, fazia da nossa uma segunda casa. Por isso sempre a tivemos sempre muito presente. Acontecimentos da vida dela refletiam direto na nossa, e vice-versa.

É importante registrar aqui o quanto a Vera Regina (na tradução: a Verdadeira Rainha, como ela me disse um dia) se mostrou diferente de todo o restante dos irmãos e irmãs.
Desde pequena demonstrou uma personalidade marcante, com opiniões diferenciadas e um certo talento para lidar com as coisas da vida tão destoante dos demais que, na maioria das vezes, era tida como a louca da família.
Quando guria, ela ria bastante desse rótulo.
O fato é que, com cerca de 9 anos de idade, a Vera começou a ter visões. Visões de fatos, acontecimentos, alguns acontecidos, outros por acontecer. Algumas pessoas conhecidas, outras não.
A Vera descobriu, desde pequena, que era uma médium madura, poderosa e bastante desenvolvida. (Aos navegantes: Médium é um termo dicionarizado que significa, de modo resumido, uma pessoa apta a ter comunicações com espíritos, que passa a mediar os contatos entre esse e o outro mundo, invisível para a maioria)

Dessa maneira, segundo ela me contou, sendo de um lar de pai e mãe católicos, sentiu a necessidade, ou melhor, atendeu ao chamado e passou a frequentar a Casa Espírita Paz e Amor. Se não me engano, ajudada pela Dona Helenita, nossa maravilhosa vizinha.
Precisou fazê-lo às escondidas, é claro. Após algumas visitas, foi apresentada ao grande Irmão José Simões de Mattos (para nós, Irmão Mattos) e mudou o curso da própria vida.
A partir desse abençoado encontro, a Vera deu início aos seus estudos da doutrina espírita, das obras básicas de Allan Kardec e começou o aprendizado necessário para disciplinar todo esse conhecimento que ela trazia do berço.
Mais um esclarecimento: existem variados tipos de mediunidade. Algumas pessoas vêem, outras ouvem perfeitamente as vozes dos espíritos, outras ainda sentem determinadas sensações, como revelações que ficam gravadas nos locais em que aconteceram, etc.
A Vera, desde cedo, sentia e convivia com mais de uma dessas manifestações mediúnicas.

E foi dessa maneira que ela soube, desde menina, como seriam algumas coisas na vida dela e nas vidas das pessoas que a rodeavam.
Quando a Lena engravidou do Marcus, ela disse para a irmã quem ele era e como seria (e que não seria fácil).
Quando ela engravidou novamente, a Vera explicou que seria uma menina e que nós nos conhecíamos de muitas outras passagens. Na verdade, em mais de uma ocasião, ela me olhou fundo nos olhos e disse: durante anos eu te esperei nascer, minha amiga.

Numa manhã ensolarada de sábado, entrei no quarto dela e me sentei em uma mesinha que havia bem no centro da peça, coberta com uma toalha e com uma cadeira de cada um dos lados. Sobre a toalha havia um baralho cigano, o qual ela usava para atender algumas pessoas, quando o Vô deixava. Abri o baralho e fiquei lendo as figuras coloridas e interessantes que pareciam mexer tanto com as pessoas que iam conversar com ela. Ela entrou, sorriu, mexeu comigo e me fez algumas perguntas, às quais, supreendentemente, eu parecia ter respondido certo. Ela brincou comigo que ainda era cedo, mas que ela me ensinaria o que sabia.
A bem da verdade, segundo ela me contou, anos mais tarde, o baralho era mais um apoio para as pessoas que vinham consultar... ela fazia a leitura através da voz do espírito que se sentava ao lado e contava tudo o que ela precisava saber...

A Vera acompanhou o nascimento do Marcus e o meu, acompanhou cada passo do casamento da Lena, a separação do casal Maria Helena e Mário Feio de Lemos e testemunhou de perto toda a luta da Lena para criar o casal de filhos e sustentar a casa.

Vamos voltar a essa figura incrível muitas vezes. Por ora, que Deus abençoe nossa amada Vera Regina!

Foto: Vera sorrindo com os dois filhos pequenos, na VARIG

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Paixão pelo Volante, desde a infância

Marcus pilotando na SPASSO


Para quem teve o prazer de conviver com o Marcus e o de sentar ao lado dele atrás de um volante, vai entender perfeitamente o que vamos falar aqui: uma das grandes paixões dele era(é) o automóvel.

Apaixonado desde pequeno pelo Speed Racer, um desenho animado japonês, ele acompanhava o seriado, desde a musiquinha de abertura até a máxima fidelidade, isto é, assistia até o final a todos os episódios, mesmo repetidos.
Para o Marcus, o Mach 5 não era apenas um carro. Ele tinha vida própria e personalidade, poderia interagir com ele. Ele enchia a boca e fala "Mééééétchhhhh cinco"...
Em várias ocasiões, era possível encontrar desenhos do carro do personagem Speed Racer, o fabuloso Mach 5, nos cadernos escolares do Marcus.
Para quem não via o desenho: o carro saltava, andava sobre duas rodas e protegia sempre o piloto de qualquer acidente. Uma perfeição!!!
Ele desenhava super bem e analisava cada detalhe, a ponto de reproduzir muito bem o carro. E não eram poucas ilustrações. Havia desenhos do Mach 5 de frente, de visão lateral, de sobrevoo, da traseira e do próprio cockpit, alguns até do ponto de vista do piloto, com as mãos na direção.
O Mach 5
O carro, indiscutivelmente, levava o Marcus à loucura, sem exageros. Ele tem (teve) o brinquedo Autorama da Estrela, guardado a sete chaves, em perfeitas condições. Nas nossas corridas de velocidade, mesmo que o carrinho dele fosse azul e quadrado, atendia pelo nome de “Mach 5” (o meu era um Porsche vermelho, descobri recentemente).


Ele gostava de dirigir, de estar dentro de um carro e das máquinas, em geral. Não foi difícil a ele se relacionar com os compressores e com a manutenção industrial, quando concebeu e montou a SPASSO Compressores, primeiro apenas um número de telefone e a entrega de peças, depois o aluguel da sala no Centro de Porto Alegre, na Júlio de Castilhos e, por fim, a enorme sede de dois andares na Rua São Nicolau, 903 e aquisição do terreno no Distrito Industrial de Cachoeirinha.

Claro, não se pode esquecer que a presença do Renato Pinheiro foi vital nesse processo. Foi o Renato que despertou nele essa ansiedade de conhecer e mexer nas máquinas e, sem dúvida, foi a ponte do Marcus para Terabítia.

Na foto que ilustra esse blog, além da imagem do próprio herói Speed Racer, como piloto de corridas e do carro, o Mach 5, está o Marcus executando um dos trabalhos mais prazerosos que a SPASSO fez: a manutenção do compressor de uma empresa de brinquedos, simulador de corridas de automóvel.

Um pouco antes de deixar o corpo físico aqui na terra, tive o imenso privilégio de ver o brilho nos olhos dele quando puxei o assunto do então recente lançamento do filme Speed Racer. Foi como um jato de fluido, de energia vital mesmo!. Ele se sentou no sofá, pegou as revistas que eu levei sobre o assunto e tagarelamos alegremente um bom tempo.
Ficou feliz e planejando o dia em que iria ao cinema assistir o filme Speed Racer e, também, com a mesma empolgação, ao filme do Homem de Ferro (Ironman).

E nasceu a Carolina... afilhada do Marcus

Casa da família na Avenida Assis Brasil, aparência e moradores atuais - Foto de Juarez Machado

Pouca gente sabe, mas ainda adolescente, aos 13 anos, o Marcus ganhou a responsabilidade de ser padrinho de um nenê novo na família. Em 15 de agosto de 1977, no meio do inverno gaúcho, nasceu a Carolina da Silva Pinheiro, filha do Renato Pinheiro (grande figura na vida do Marcus) e da Vera Lúcia da Silva Pinheiro.

Para quem viveu e só para quem ouviu falar, cabe relembrar: a casa da Vó Ecilda, na Avenida Assis Brasil, 911, foi uma conquista do Seu Joventino, lá na década de 50 e passou a ser um ponto forte de união do clã Pinheiro.

Como é bastante comum nas famílias brasileiras, o patriarca e dono da terra – no caso o Seu Pinheiro, chamou para perto os filhos e filhas que, já casados e com filhos, não tinham sua casa própria e passaram a morar no mesmo pátio.

Na tarde fria do dia 14 de agosto, a Vera Lúcia deu baixa no Hospital Nossa Senhora da Conceição, e chegou a notícia do nascimento do nenê. Naquele tempo, o sexo do bebê só era conhecido no nascimento, e nasceu uma menina: a Carolina.
Uma alegria para todos, aquela bonequinha de pouco mais de 40 centímetros, ficou uns dias ainda no hospital antes de vir para o IAPI.

A Carolina foi batizada em casa e teve o privilégio de ser apadrinhada pela Rosemary e pelo Marcus. Formalmente, ou seja, religiosamente, era afilhada do Vô e da Vó (é isso, né Carol?)

A casa da Assis Brasil – como era
Uma casa modelo do IAPI, construída e entregue pelo próprio Getúlio Vargas aos trabalhadores da época, pelo critério do número de filhos. Era composta de sala, cozinha, banheiro, três dormitórios, área coberta e um amplo depósito no pátio, em um terreno bastante grande em relação aos padrões de hoje.
Esse blog já referiu http://marcusfeiodelemos.blogspot.com/2011/05/casa-dos-pinheiro-em-porto-alegre.html, que o Vô Joventino fez uma escolha na entrega das chaves. Escolheu a melhor casa, sem o espaço de garagem, mas recebeu a compensação de um terreno de 50 metros de comprimento, com 25 metros – acho – nos fundos.

Para abastecer o fogão à lenha da Vó Ecilda, o estoque de tocos de madeira, de gravetos e galhos era a casinha da lenha, uma casa muito bonitinha, construída sob encomenda e com muito amor pelo Tio Saul para atender as necessidades de sua mãe. Essa casa foi instalada bem lá nos fundos do fundo, atrás até da casa do Pelé, um dos primeiros cães Dobermann que viveram por lá. (Sobre esse carinho especial entre mãe e filho, que havia(há) entre a Ecilda e o Saul, esse blog vai tratar em outras postagens, ok?)

O Cortiço

Vista da Assis Brasil, a casa, de três dormitórios, era do vô e da vó. Contudo, a partir da porta dos fundos, o quintal foi mudando, ano a ano. Primeiro a Sônia, filha mais velha – entre as mulheres – e segundo a Lena: a “queridinha do Vô Joventino”, incorporou o quartinho dos fundos que existia e construiu uma casa completa, no meio do pátio.
Depois, o Renato, filho mais novo e boêmio desde guri, ainda morava com os pais. Quando a paixão pela nova namorada bateu forte, o Renato trouxe a Vera Lúcia para morar com ele. Em um primeiro momento, enfrentou os narizes torcidos dos irmãos e trouxea namorada para morar com ele no “quarto do meio”, ou quarto dos guris, dentro da casa da Vó.
Acredito que tenha sido um pouco pressionado pelos demais, mas o fato é que construiu umas peças no fundo do pátio, colocando para o lado a casinha da lenha e passou a morar ali com a nova família.

Convidada por último, a Lena mandou construir mais duas peças e recebeu os dois quartos que o Vô e a Vó não utilizavam para serem um quarto e sala. A fachada da casa ganhou uma porta lateral e nasceu a casa dos Feio de Lemos – ou seja, a Lena veio morar com os dois filhos, ato que repercutiu muito na vida do Marcus.

Foto: Cortesia do fotógrafo e grande amigo do Marcus, Juarez Machado