segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Conhecendo a Argentina e para além das fronteiras do Brasil



Nos primeiros dias, a curiosidade de criança foi maior do que qualquer outro sentimento e a fala daquele homem estranho não foi nenhum impedimento.
Quer dizer, não foi para a gente, porque a gente perguntava a toda hora o que é que ele estava dizendo para podermos entender aquele falar enrolado. Acostumados com as séries dubladas da televisão brasileira, a língua espanhola nos era totalmente estranha.

Estranha e fascinante.

Ele falava coisas sobre uma montanha linda e branca, cheia de neve, que ele subira com amigos e que exigia muito esforço e treinamento para chegar lá. Tratava-se de um tal de Pico do Monte Aconcágua, no meio de uma tal de Cordilheira dos Andes, lá naquela tal de Argentina.
O Marcus ouvia fascinado cada detalhe da aquela aventura e, ainda por cima contada por alguém que esteve lá. O Egídio contava empolgado sobre o ar rarefeito e gelado das alturas da Cordilheira dos Andes. Falava e demonstrava com as roupas mais grossas para frio que jamais havíamos visto antes. Falou sobre expedições de alpinistas e acampamentos em barracas especiais nos topos de neve eterna do Oeste do país.

Ele trazia a geografia no peito e dividia com a gente, cada detalhe empolgante, cada vivência daquele que, segundo ele, era o pico mais alto da América do Sul e a maior montanha fora da Ásia. O Marcus foi presenteado com um incrível cuecão de alpinista que era melhor do que qualquer pijama que se usasse por baixo da calça para esquentar no inverno! E, também, com uma camiseta de mangas longas branca que aquecia de verdade e transformava meu irmão de oito anos em um grande explorador das montanhas do mundo. (Aliás, tenho certeza de que essas roupas estão guardadas nas coisas pessoais do Marcus até hoje)

Pessoalmente, com cinco anos de idade, achei muito legal enfrentar a neve, já que era permitido – e recomendável – que se tivesse várias barras de chocolate na bagagem e nos bolsos. Qualquer aventura que tivesse chocolate liberado – sem ser no dia do aniversário – afinal, não podia ser tão ruim assim, na minha opinião.

Nos dias de hoje, qualquer piá sairia de fininho para acessar o Google, a página da Wikipédia ou qualquer outro saite de busca, podendo, em segundos, ilustrar a sua curiosidade com fotos, as mais interessantes.

Não era o nosso caso. Nosso único conhecimento daquela coisa sobre a qual ele falava era o próprio relato da coisa, com seus detalhes e com suas fotos e mapas, seus desenhos e cicatrizes.

Então, subitamente, mais do que o cientista, pai do Johnny Quest do desenho da TV, e mais do que o Jacques Costeau, que estava sempre no fundo do mar, o Egídio passou a ser a pessoa mais letrada com quem já tivéramos contato na vida. Tornou-se nosso cientista e consultor e nos acostumamos a levar para ele as nossas histórias e dúvidas no final do dia, para saber qual seria a sua opinião sobre todas as coisas.

O Marcus, especialmente, entrou de cabeça nesta história. Passava horas e horas conversando com o Egídio, fazendo perguntas, ouvindo essas histórias sobre o mundo, sobre uma tal de política, um dito regime militar e uma malvada de uma ditadura que, segundo ele, tinha expulsado ele de casa. “E a tua mãe?” A gente perguntava. “Como assim, teu pai morreu?” e outras coisas parecidas que ele respondia – sempre, sempre com muita paciência com os piás Marcus e Cristina.


Continua na próxima postagem.
Fonte da foto: Aconcagua

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

E a Argentina invadiu o Brasil

A Argentina invadiu o Brasil.


Não sei bem como ou quando ocorreu, mas acho que foi no inverno de 1974. Não foi de uma maneira bélica, nem sangrenta. Não eram exércitos armados, nem homens uniformizados.

Foi um homem, apenas um. E ele nunca mais foi embora.

Um belo dia daquele ano (que tanto pode ter sido em 1975 ou em 76), a Vera Regina Pinheiro trouxe pela mão um amigo. Amigo estrangeiro. Mais do que isso, de um país chamado “Argentina”. Ele falava diferente e insistia em elogiar aquele lugar desconhecido de todos.

Para clarear a história: a Vera Regina era uma das três filhas da Vó Ecilda (irmã da Lena, minha mãe, e também, minha madrinha), a única que ainda morava com os pais.

O seu Joventino (Vô Tinto), vocês sabem aqui pelo blog (http://marcusfeiodelemos.blogspot.com.br/2011/05/o-comeco-de-tudo.html) não permitia liberdades com as filhas dele, não.
Então, certamente, a invasão argentina deveria vir por algum outro território que não fosse o da casa da Vera.
E assim foi.

A luz da Vera Regina

Primeiro, necessitamos contar aqui a trajetória da Vera Regina http://marcusfeiodelemos.blogspot.com.br/2011/08/vera-regina.html) que, desde os 9 tenros anos demonstrava uma capacidade mediúnica incontestável, um verdadeiro talento nato para visões incríveis, de um mundo desconhecido para todos ao redor: o do plano espiritual.
A partir de muito cedo a Vera iniciou a contar a história de um jeito muito particular, permeado de participações que, por mais que quiséssemos, não podíamos enxergar.

Quando a Vera passou a freqüentar o Centro Espírita Paz e Amor e a estudar o Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, a vida dela alçou vôo.
Todos na família sabiam que a Vera Regina era médium (termo que vem do latim e significa “mediar”) e se comunicava com os espíritos. A Vera é médium vidente de primeira grandeza e uma trabalhadora mediúnica que executou muito bem os seus deveres na Paz & Amor durante mais de 30 anos da vida.

E, nessa Casa Espírita (que depois veio a ser a Sociedade Espírita de Paz e Amor), ela conheceu e foi conhecida por muita gente.

Uma das pessoas que ela conheceu na Paz & Amor foi um pintor argentino, de passagem no Brasil com alguns de seus desenhos, rumo a Madri, na Espanha. Os anos eram duros e espinhosos na ditadura militar do país vizinho, não eram propícios ao desenvolvimento da pintura e da sua arte por lá.

Já por aqui, a ditadura também plantava suas flores nefastas, mas a tirania aqui não se traduziu pela perseguição do mesmo número de pessoas que o regime militar ceifou na Argentina.

Nesse contexto, típico dos anos 70, a Vera Regina emprestava sua alegria, espontaneidade e leveza aos lugares por onde passava. Figura conceituada na Casa Espírita, ministrava cursos, aulas, aulinhas de evangelização e tudo o mais, sempre requisitada para orientar grupos de jovens, a participar de visitações e caravanas, etc.

Como amiga, a Vera me descreveu o momento em que conheceu o jovem pintor barbudo e argentino. Ela o descreveu para mim de forma bem pessoal e feminina: “eu vi que ele era machão, que era artista e que era aventureiro. Também vi que tinha uma loira dependurada nele e que não pretendia largar”, ela disse, e continuou: “Também vi que ele iria ser meu”.

Foi desse momento em diante, após serem apresentados, que eles passaram a se conhecer e a se amar.

Escolhido o território

Diante da amizade (e do amor) que crescia e dos momentos que (cada vez mais) passavam juntos, a Vera veio conversar com a Lena.

E num dia de inverno, o território da invasão foi escolhido: o argentino veio morar na nossa casa.
Não lembro muito bem como as coisas aconteceram, nem da primeira vez em que nos vimos. Sei apenas que o amigo da Vera, Egidio Benigno Villalba, veio morar na nossa casa, dividindo o teto com o Marcus e comigo - crianças -, com a Lena, com o Scooby e o Rusty, nossos dois guaipecas, na Rua Júlio Verne, 394, em Porto Alegre.

A primeira coisa marcante, além da fala e da barba, foi a bandeira.
Nós, crianças, que mal conhecíamos a bandeira do Brasil – e não a entendíamos – fomos apresentados ao azul celeste da bandeira argentina. E muito mais.

(continua na próxima postagem)

O Aramin


Quem conviveu alguns anos com o Marcus sabe que uma das marcas da personalidade dele era a capacidade de alimentar admirações secretas por pessoas. Ele trazia alguns segredos no peito.

Nunca falava abertamente, porém, algumas pessoas ele realmente admirava de maneira quase que icônica.

Uma dessas pessoas era o Aramin. Um menino que o Marcus conheceu na infância, na cidade de Santo Ângelo e fez parte do imaginário dele por toda a vida.

Pelo que lembro, puxando pela memória, o Aramin regulava de idade com o Marcus e morava no mesmo bairro, naquela cidade de terra vermelha, no início dos anos 70.

Ele era de uma família pobre, de tal maneira, que o Marcus ficou impressionado com a simplicidade em que viviam. Lembro que a Lena também comentou algumas vezes de coisas que eles viram e viveram no convívio com aquela família.

Especialmente, na minha memória de criança, ficou registrado que, por vezes, a família toda só possuía feijão para comer e que as roupas, bastante lavadas, eram poucas e simples. Lembro de que também não havia calçados e que, na época, como a casa em que morávamos era alugada na cidade, a sensação era a de que tínhamos demais, diante de tão pouco.

O Marcus memorizou algumas frases e algumas “saídas” do Aramin e passou a vida toda (mesmo) recitando, aqui e ali, aquela sabedoria de criança e de seu sofrimento infantil.

Ele guardava em si o sonho de voltar lá e buscar o Aramin, que havia muitas vezes manifestado o desejo de vir morar conosco e de sair de lá. Lembro até de uns comentários da Lena sobre a mãe dele até ter tido a vontade de “dá-lo” para a gente, para vir embora para Porto Alegre.

Passados 30 anos, lá por 2005 ou 2006, em uma conversa com o Marcus, lembro que perguntei pelo Aramin, já que a internet e as redes nos fazem achar (quase) todo mundo.

O Marcus ficou pensativo e disse que, depois de muitos anos passados, havia voltado até Santo Ângelo, com o endereço de memória (e que memória!) e procurou até encontrar a casa da família.

Sem surpresa, encontrou a família e localizou o Aramin, amigo querido de seu imaginário de infância.

Todavia, pelo que ele me passou, o carinho e a admiração que ele guardou por tantos anos – como aconteceu muitas vezes com o Marcus – não foi entendido do lado de lá.

Assim, por forças conjunturais da sociedade e da desigual luta de classes, o menino pobre que ele havia conhecido, tornou-se um jovem remediado, que virou homem ressentido de tantas privações. Esse homem não entendia o porquê daquele contato de um homem”rico”, a não ser que pudesse auferir alguma coisa.

O Marcus, bastante decepcionado, não demonstrou ao antigo menino o que o seu coração guardava e, pelo que ele deu a entender, nunca mais procurou o seu melhor amigo.







segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Cebola? Sim! Couve-flor, nunca mais


Vai uma couve-flor aí, Marcus?
Foto: Cristina Lemos
Difícil de explicar a paixão do Marcus pela cebola. Não sei quando começou, mas cebolas cruas eram sempre bem-vindas! Acompanhando qualquer refeição e, principalmente, nos lanches também.
Aliás, tenho convicção de que a estatística de refeições na vida do Marcus foram de lanches em número muito maior do que de refeições regulares.
E, cá entre nós, de refeições balanceadas, então, a estatística deve cair lá em baixo, dados o paladar dele e o gosto por pão-com-alguma-coisa. Isso explica, em parte, a eterna luta da família contra a balança, não é?

Todavia, desde pequenos, fomos apresentados a todos os tipos de verduras, legumes e a todas as frutas das estações disponíveis no Rio Grande do Sul. Graças a isso, aprendemos a comer de tudo, de diversas formas.

Assim, não posso deixar de lembrar - sempre - do Marcus, a cada vez que corto uma cebola para dar início a algum prato na cozinha (pessoalmente, não sei cozinhar sem cebola). Lembro da cara dele entrando na cozinha, enfiando descaradamente as mãos (sujas, óbviamente) na tábua de carne e encher com um punhado de cebola picada, levando direto à boca, num gesto tão rápido quanto possível!
Isso tudo a despeito dos protestos da Lena, ou de quem mais estivesse nas cozinhas da vida do Marcus.

Vou contar para vocês hoje que essa mania do Marcus de entrar na cozinha e roubar o que estivesse disponível (provavelmente esteja no DNA dos Pinheiro e Feio de Lemos, como vou contar em outras postagens), vem desde pequeno. Vejamos:

Contava a Lena que, enquanto a família morava na Travessa Jaguarão, ali no IAPI, ela costumava fazer em casa algumas conservas de alimentos: pepino, cebolinhas, couve-flor, etc. Claro que não havia supermercados e hipermercados como os que existem hoje, com farta oferta marcas de conservas, de picles e, o que era definitivo: não havia dinheiro para comprar tais especiarias.

Numa manhã daquelas, com o Marcus ainda pequeno - acho que por volta dos 5 ou 6 anos de idade -brincando na sala, ela ficou horas na cozinha, preparando o que deveria ser um (ou mais) vidro grande de couve-flor em conserva. Ao terminar o processo de cozimento, ela deixou toda a couve-flor cozida, mergulhada já no caldo de vinagre e temperos, dentro de uma vasilha grande, sobre a mesinha da sala, para que esfriasse aos poucos, até que pudessem ser acondicionadas nos vidros e fechadas devidamente para que a família pudesse consumir com o tempo.

Claro que, depois disso, ela retornou para a cozinha, para terminar algumas outras coisas, das tantas que ela fazia durante o dia, com duas crianças pequenas e a casa para cuidar.

O Marcus, brincando na sala, ficou sozinho com aquilo que cheirava tão bem. Quem conheceu o Marcus e sentou com ele à mesa, sabe que ele gostava de comidas mais fortes. Naquele dia, ele resolveu provar um pedacinho do que estava naquele prato grande. Provou.
Continuou brincando na sala e o gosto se espalhou pela boca. Ele gostou do sabor e pegou mais um pedaço. E outro, e mais outro. Continuou assim, brincando e se servindo durante um tempo. Colocava a mãozinha dentro do caldo e pegava uma florzinha da couve-flor, depois mais uma, e chupava os dedos.

Ao final, quando não havia mais NENHUMA florzinha no pote, ele tornou a brincar, tranquilamente. Quando a mãe retornou da cozinha para buscar o prato e terminar o que havia começado, olhou para o prato, para o Marcus e perguntou assustada:
- "Marcus, tu viu o que a eu deixei aqui em cima da mesinha?"
- "Vi" - ele respondeu, simplesmente.
- "Marcus, onde é que tá o que tinha dentro do prato?"
- "Mãe, tava tão bom... eu comi!"
- "Marcus, tu comeu TUDO o que tava dentro do prato?"
- "Comi" - respondeu o Marcus, agora já se perguntando o porquê de tanto alvoroço em torno de umas florzinhas com gosto de vinagre...

Sem poder fazer mais nada, a Lena se consolou e ficou muito admirada com aquele guri. Observou o Marcus por toda a tarde, até o início da noite. Foi aí que o caldo entornou: ele começou a reclamar que doía a barriga e passou muito, muito mal. Tão mal que praticamente não dormiu, vomitando quase a noite inteira todo aquele "lanchinho" indevido...

A partir do dia seguinte e daí para toda a sua vida, o Marcus não colocou nenhuma outra florzinha da couve-flor na boca, nem em casa. Mais do que isso: quando via uma couve-flor, especialmente quando o sentia o cheiro característico dela cozinhando, ele tinha ânsias de vômito.

Claro que, sabendo disso e sendo a irmã mais nova e gostando - bastante - de couve-flor, eu, de vez em quando, só para implicar, colocava uma no meu prato e perguntava, bem querida: "Quer um pedaço de couve-flor aí, Marcus?"

quarta-feira, 9 de maio de 2012

A primeira pescaria


Traíra
O Marcus tinha por volta dos 12-13 anos, no início da puberdade e da adolescência. Foi convidado por um colega de trabalho da Maria Helena, o Sr. Orandir de Vargas, para ir com ele e uns amigos pescar em Cachoeira do Sul, onde residiam os familiares de sua esposa, Aibonez.
O Vargas, como era conhecido lá em casa, levou aquele gurizão inexperiente para aquilo que seria um marco divisor de águas na vida dele.
Segundo o que o Vargas - e o próprio Marcus - contavam entre risadas, a história da primeira pescaria foi mais ou menos assim:
O grupo contava, além do Vargas e do Marcus, com um cunhado dele (irmão da Aibonez), um amigo do Vargas, também adolescente, o Dunga (André) e mais um ou duas pessoas de lá.
Chegando lá, após as apresentações e formalidades, o grupo seguiu até a beira do Rio Jacuí, para dar início aos preparativos para a pescaria.
O objetivo era a pesca recreativa, mas, diferente dos anos que se seguiram, todo o peixe porventura pescado, era para ser limpo, dividido, preparado e levado para casa para comer, como verdadeiros troféus.
A expectativa era de se pescar traíras, carás, jundiás, piavas e outros peixes de água doce, abundantes na região.
O destaque aqui vai para a isca utilizada: minhoca. Minhocas nativas, gordinhas, rechonchudas, diretamente da terra para o anzol.
A noite já ia alta quando, após algum tempo de espera, após as lições de uso do caniço, do molinete, do manejo do anzol, das bóias e chumbadas, o Marcus precisou de reposição das iscas nos anzóis.
Pediu, esperou, recebeu o saco de minhocas para usar.
E ele ficou sabendo que a minhoca era muito pesada para ficar no anzol e não cair no lançamento de volta na água.
Foi então que ele, inocentemente, sem saber que esse gesto seria alvo de muita gozação pela vida afora, perguntou: "Cadê a faca para cortar a minhoca???".


A homarada repicou, entre risos, que a única solução era mesmo largar o nojo natural de guri da cidade e rasgar a minhoca com a mão, mesmo...

O Marcus, lógico, venceu o nojo e acostumou a mão. Virou essa que seria a primeira noite na beira do rio, ao lado do caniço.
Essa noite e infinitas outras ao longo da vida, praticando a sua arte preferida: A PESCA.

Foto: http://www.pescacomaventura.com.br/2011/03/aprenda-limpar-trairas.html e http://thehistoriador.blogspot.com.br/2011/09/os-9-trabalhos-mais-estranhos-e.html

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Alegrias com a família do Léo e Maria do Carmo Dalcin

Lena e Shana Natasha Dalcin no aniversário de 15 anos

Marcus e a Namorada Denise, SP, com a Shana
Após a falência da Metalúrgica Aço Técnica, nos anos 70, a Maria Helena precisou sair em busca de novas oportunidades.
Um dos colegas que ela conheceu na Metalúrgica, o Senhor Orandir de Vargas, passou a trabalhar em uma outra empresa, a LIDEROIL DO BRASIL, de "re-refino" de óleo, com sede em Gravataí e, na época, na Rua 7 de Abril, em Porto Alegre.

A Lena então foi trabalhar no Distrito Industrial de Gravataí, e, depois, veio para a sede da Rua Santos Dumont, perto da Rua do Parque.
Esse blog vai contar algumas experiências acontecidas na LIDEROIL e as muitas amizades que de lá vieram.
Uma delas, que esse blog homenageia nesta postagem, é a Maria do Carmo Dalcin e o Léo Antonio Dalcin, grandes amigos da Lena e cuja amizade se iniciou devido à relação dentro do trabalho. Ainda lembro quando esta amizade começou e de uma visita ao Centro de Canoas para visitá-los.
Naquele sábado ao meio-dia, o Léo nos presenteou com um churrasquinho assado na área de serviço do apê e nunca esqueci do incrível sabor daquela que seria a primeira vez que saborearia corações de galinha assados na brasa...
As fotos são da festa de comemoração dos 15 anos da primeira filha do casal, Shana Natasha Dalcin, linda, esplendorosa e feliz naquela data.
Pode-se ver, também, o Marcus com um sorriso disfarçado, ao lado da aniversariante, com uma de suas namoradas. Elas eram vindas de todos os lugares - via internet. A da foto é a Denise, diretamente da Baixada Santista.

Abraço Maria do Carmo e Léo Dalcin. Esse blog saúda esses amigos que muitas vezes, ajudaram silenciosamente a Lena a tocar a vida e a família, com todas as formas de apoio.

sábado, 28 de abril de 2012

Mário Feio de Lemos, Histórias da Juventude e a Lena no hospital


Antonio William Cidrão Assis, amigo do Mário Feio de Lemos na juventude, em Fortaleza
Foto: Cristina Lemos
Tarde do dia 28 de junho de 2007. Por um capricho do destino, a mãe do Marcus (e minha) havia dado início a um tratamento contra o câncer que se formara no cérebro com uma cirurgia, no dia 05 de junho.
Os riscos de sucesso eram tão grandes quanto os de fracasso e tanto ela como nós, apostamos no sucesso. Deus não quis dessa forma e, talvez por erro médico, talvez por mão do destino, a Maria Helena Feio de Lemos entrou para o bloco cirúrgico às 6 horas da manhã e teve sérias complicações decorrentes da cirurgia.

A Lena ficou em tratamento, na UTI, desde o dia 05 de junho e lá permaneceu por 60 dias, até ser desligada do corpo físico, em 29 de julho de 2007.
Eis o por quê de essa data, dia 28 de junho de 2007, ter marcado tanto para mim.
Tratava-se do dia das eleições para a direção do sindicato do qual eu faço parte (Sintrajufe-RS) e, tratava-se, por isso, do único dia em todo o período de estada da Lena na UTI do Hospital Mãe de Deus, em que eu não estive presente em todas as 3 visitas permitidas aos familiares (30 minutos pela manhã, 30 pela tarde e 30 à noite).
Isso não é fácil de se esquecer, não é? Em todos esses dias, em todas essas manhãs, tardes e noites, o Marcus foi religiosamente até a ante-sala da UTI do HMD e me esperava para que entrássemos juntos - apenas dois familiares - para a cabeceira da Lena conversar com ela um pouquinho.

Por isso, amigos que nos acompanham, não esqueço que, após muitos anos de trabalho na Justiça, houve grande surpresa quando esse colega de longa data, Antonio William Cidrão Guedes, me perguntou se acaso eu conhecia o "Mário Feio de Lemos". "Meu pai", respondi.

Dali em diante tive a grata surpresa de escutar histórias incríveis sobre a juventude e a adolescência do Mário, coisas absolutamente novas para a gente, que nunca tivemos contato com a família e os amigos dele que moravam no Norte e no Nordeste do país.

Esse blog vai relatar algumas histórias bastante engraçadas que chegaram ao meu conhecimento sobre a vida pregressa do pai, até então desconhecida por nós.

sexta-feira, 23 de março de 2012

terça-feira, 20 de março de 2012

Joventino Pinheiro e amigos


Vô Tinto, o segundo da esquerda para a direita

Chevette, o Primeiro carro do Marcus

Marcus posa feliz com o carro, casa do Tio Raul, Caxias do Sul
Quando o Marcus comparceu à entrevista no laboratório e seguiu todas as regras previstas para passar nos testes impostos, além de comprar um terno às pressas e de a Lena lavar todas as noites a mesma e única camisa social para o trabalho no dia seguinte, também teve de adquirir um carro, obviamente, sem reunir condições financeiras para isso.

Pouca gente sabe dessa fase da vida do Marcus, pois foram lutas silenciosas que ele e a Lena travaram juntos, acordando muito cedo(muito mesmo) e conversando sobre os passos que seriam dados.
Ao ser confirmada a vaga no Laboratório Aché, o Marcus seguiu pela Avenida Assis Brasil, naquela região do Sarandi onde há várias revendas de carros e - só Deus sabe como - encaminhou os papeis para o financiamento do Chevette.
Aliás, mais do que isso: após assinar o contrato com prestações que comprometiam quase todo o futuro salário, o Marcus embarcou no carro e dirigiu para casa.

Pode parecer uma coisa simples, só que o mais importante não foi dito: apesar de várias aulas com o Seu Breno (Breno Rabello, grande figura, nosso vizinho, amigo e fã do Marcus) e algumas no fusca da Rose, o Marcus não sabia dirigir. Nunca tinha saído sozinho e não tinha carteira de motorista!

Lembro daquele final de tarde, em que o carro jazia parado na frente da casa, na meia-lua em frente a nossa casa no IAPI e que os adultos andavam em volta do carro e davam batidas nas costas do Marcus, todos rindo muito da insólita situação.

Me vem à memória o Tio Saul e ele conversando. O Marcus contava que, quando bicou o carro na entrada do Seu Breno (nunca tivemos entrada para automóveis na nossa casa, como tinha sido previsto pelo Vô Tinto, trinta anos antes), sentia as costas encharcadas com o suor do nervosismo em dirigir sozinho no trânsito da Volta do Guerino. Numa daquelas brincadeiras de Pinheiro, o Tio perguntou se ele também não tinha sentido "as calças cheias" quando entrou em casa...
O Tio Saul perguntou a ele por que não havia telefonado, pedido ajuda e ele teria ido buscar o carro para ele, várias pessoas disseram isso. Ora, para quem conheceu o Marcus, ou a Maria Helena, sabe que pedir ajuda estava fora de questão. Seria declarar impotência, ou alguma sorte de incompetência, não é mesmo?  e isso nunca nos foi ensinado.

Claro que, no novo emprego, ninguém sabia disso. Se não me engano, foi também o Alexandre, nosso primo, que levou o carro até a Polícia de Trânsito, lá na Avenida Ipiranga, para poder, finalmente, tirar a carteira, cerca de um mês depois desse evento. Ou seja, o Marcus saía para trabalhar todos os dias, nunca faltou a nenhum ponto de encontro, 8:00 da manhã e 13:30 da tarde, ia com o carrinho e voltava todas as tardes, porém, a carteira que o autorizaria a rodar o dia inteiro, só veio cerca de um mês depois.

Foto: Pelo sorriso do Marcus, acho que a fotógrafa foi a Claudia Maria Pinheiro, nossa prima, ou a Lena, numa Kodak 126, a câmera da época.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

A visita do Alexandre e a Indústria Farmacêutica

Nesse blog, vamos contar detalhadamente o grande salto profissional que foi a visita do Alexandre Ribeiro de Azevedo na nossa casa, numa noite fria de 1982.

Ele vinha trazendo na pasta a melhor notícia que o Marcus havia recebido até então: a de abertura de vagas para recrutamento na empresa da indústria farmacêutica que viria a mudar a vida dele a partir daquele momento.
O Alexandre era nosso primo, filho da Joan Ribeiro e grande amigo de todos nós, seguia a carreira do pai. Frequentava nossa casa e já demonstrava, naquele período, como se podia viver bem com um salário melhor.

Lembro que ele chegou empolgado, conversando com o Marcus sobre todos os detalhes da entrevista e de como seria importante isso e aquilo...
Alguns dias após, dentro do terno recém comprado à prestação nas Lojas Renner para a ocasião, e também dentro da única camisa, única gravata e único par de sapatos, o Marcus se apresentou para a entrevista de emprego no Laboratório Aché.

Como todas as coisas na vida do Marcus, não foi nada fácil. Na primeira entrevista, ele recebeu um folheto de propaganda de produtos da empresa, contendo cerca de 08 (oito) páginas, frente e verso, e a incumbência de decorar todo o texto até a próxima entrevista, agendada para dali a três ou quatro dias. Parece que havia um final de semana no meio e ele deveria se apresentar nas primeiras horas da segunda ou da terça.

Jamais esquecerei o que se passou a partir daí: o Marcus mal dormia, mal comia, não assistia tv e não saía de casa, passou a repetir para si mesmo, em voz alta, cada palavra do folheto, religiosamente, até que TUDO, TUDO MESMO estivesse absolutamente decorado e na ponta da língua.
Nenhuma de nós, nem eu nem a Lena fomos poupadas de pegar o papel e tomar dele muitas vezes cada trecho.
E, da forma mais impressionante, ele sabia, ao final do primeiro dia, cada pedacinho do que estava escrito naquele folder. As palavras em latim, nomes complicados de produtos farmacêuticos e substâncias ativas de medicamentos, reagentes, indicações, tudo. Ele sabia quando se abriria uma chave, um colchete, um parênteses.

Movido pela necessidade e pela determinação de conseguir a vaga, o Marcus nos emocionou a todos. Na verdade, me emociona até hoje lembrar daquele guri de 17 anos, quase fazendo 18, que se vestia de abrigo e tênis surrado... Ele se arrumava para ir trabalhar como auxiliar de escritório e vender lanche na empresa para aumentar uns trocados na nossa parca renda, se atirou de cabeça na oportunidade que apareceu.

O resultado foi que aquele momento foi um divisor de águas na vida dele. Os gerentes ficaram bastante impressionados com o desempenho dele e a vaga foi conquistada com todo o esforço possível!

A partir dali, ponto de encontro todos os dias, às 8(oito) horas da manhã, defronte ao Hospital de Cardiologia, na Avenida Princesa Isabel e ponto de encontro também à tarde agendado todos os dias pelo supervisor.
A partir dali passaram a chegar caixas e caixas da transportadora direto na nossa casa, as quais continham milhares de amostras para distribuição para os médicos(as), clínicas, hospitais.
A partir dali, era possível ver todos os dias o esforço pessoal do Marcus em modificar o temperamento e o gênio, sempre recluso e fechado, tornando-se um falante representante do Laboratório Aché.

E, para complementar, todas as noites era verificado pela Lena o terno e a calça do traje, todas as noites era lavada e passada a única camisa, para que no dia seguinte ele pudesse estar de novo impecável para se apresentar no novo emprego e diante dos médicos.
Foi assim até a chegada do primeiro salário, quando, finalmente, a grana deu para comprar mais algumas camisas e um colete... afinal, era inverno!