segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Cebola? Sim! Couve-flor, nunca mais


Vai uma couve-flor aí, Marcus?
Foto: Cristina Lemos
Difícil de explicar a paixão do Marcus pela cebola. Não sei quando começou, mas cebolas cruas eram sempre bem-vindas! Acompanhando qualquer refeição e, principalmente, nos lanches também.
Aliás, tenho convicção de que a estatística de refeições na vida do Marcus foram de lanches em número muito maior do que de refeições regulares.
E, cá entre nós, de refeições balanceadas, então, a estatística deve cair lá em baixo, dados o paladar dele e o gosto por pão-com-alguma-coisa. Isso explica, em parte, a eterna luta da família contra a balança, não é?

Todavia, desde pequenos, fomos apresentados a todos os tipos de verduras, legumes e a todas as frutas das estações disponíveis no Rio Grande do Sul. Graças a isso, aprendemos a comer de tudo, de diversas formas.

Assim, não posso deixar de lembrar - sempre - do Marcus, a cada vez que corto uma cebola para dar início a algum prato na cozinha (pessoalmente, não sei cozinhar sem cebola). Lembro da cara dele entrando na cozinha, enfiando descaradamente as mãos (sujas, óbviamente) na tábua de carne e encher com um punhado de cebola picada, levando direto à boca, num gesto tão rápido quanto possível!
Isso tudo a despeito dos protestos da Lena, ou de quem mais estivesse nas cozinhas da vida do Marcus.

Vou contar para vocês hoje que essa mania do Marcus de entrar na cozinha e roubar o que estivesse disponível (provavelmente esteja no DNA dos Pinheiro e Feio de Lemos, como vou contar em outras postagens), vem desde pequeno. Vejamos:

Contava a Lena que, enquanto a família morava na Travessa Jaguarão, ali no IAPI, ela costumava fazer em casa algumas conservas de alimentos: pepino, cebolinhas, couve-flor, etc. Claro que não havia supermercados e hipermercados como os que existem hoje, com farta oferta marcas de conservas, de picles e, o que era definitivo: não havia dinheiro para comprar tais especiarias.

Numa manhã daquelas, com o Marcus ainda pequeno - acho que por volta dos 5 ou 6 anos de idade -brincando na sala, ela ficou horas na cozinha, preparando o que deveria ser um (ou mais) vidro grande de couve-flor em conserva. Ao terminar o processo de cozimento, ela deixou toda a couve-flor cozida, mergulhada já no caldo de vinagre e temperos, dentro de uma vasilha grande, sobre a mesinha da sala, para que esfriasse aos poucos, até que pudessem ser acondicionadas nos vidros e fechadas devidamente para que a família pudesse consumir com o tempo.

Claro que, depois disso, ela retornou para a cozinha, para terminar algumas outras coisas, das tantas que ela fazia durante o dia, com duas crianças pequenas e a casa para cuidar.

O Marcus, brincando na sala, ficou sozinho com aquilo que cheirava tão bem. Quem conheceu o Marcus e sentou com ele à mesa, sabe que ele gostava de comidas mais fortes. Naquele dia, ele resolveu provar um pedacinho do que estava naquele prato grande. Provou.
Continuou brincando na sala e o gosto se espalhou pela boca. Ele gostou do sabor e pegou mais um pedaço. E outro, e mais outro. Continuou assim, brincando e se servindo durante um tempo. Colocava a mãozinha dentro do caldo e pegava uma florzinha da couve-flor, depois mais uma, e chupava os dedos.

Ao final, quando não havia mais NENHUMA florzinha no pote, ele tornou a brincar, tranquilamente. Quando a mãe retornou da cozinha para buscar o prato e terminar o que havia começado, olhou para o prato, para o Marcus e perguntou assustada:
- "Marcus, tu viu o que a eu deixei aqui em cima da mesinha?"
- "Vi" - ele respondeu, simplesmente.
- "Marcus, onde é que tá o que tinha dentro do prato?"
- "Mãe, tava tão bom... eu comi!"
- "Marcus, tu comeu TUDO o que tava dentro do prato?"
- "Comi" - respondeu o Marcus, agora já se perguntando o porquê de tanto alvoroço em torno de umas florzinhas com gosto de vinagre...

Sem poder fazer mais nada, a Lena se consolou e ficou muito admirada com aquele guri. Observou o Marcus por toda a tarde, até o início da noite. Foi aí que o caldo entornou: ele começou a reclamar que doía a barriga e passou muito, muito mal. Tão mal que praticamente não dormiu, vomitando quase a noite inteira todo aquele "lanchinho" indevido...

A partir do dia seguinte e daí para toda a sua vida, o Marcus não colocou nenhuma outra florzinha da couve-flor na boca, nem em casa. Mais do que isso: quando via uma couve-flor, especialmente quando o sentia o cheiro característico dela cozinhando, ele tinha ânsias de vômito.

Claro que, sabendo disso e sendo a irmã mais nova e gostando - bastante - de couve-flor, eu, de vez em quando, só para implicar, colocava uma no meu prato e perguntava, bem querida: "Quer um pedaço de couve-flor aí, Marcus?"