sexta-feira, 8 de julho de 2011

Chegada do bebê, ou, como a Lena dizia: A cama quebrada

Lena e Cristina, março de 1968






A Lena contava esta história com uma cara muito fechada, de repreensão.
Ela retornava do hospital Getúlio Vargas, após o nascimento da filha menor, a Cristina.
Sempre que uma parturiente retorna para casa, são precisos alguns cuidados, especialmente no que toca à higiene e ao conforto da mulher.
Era difícil para a Lena lembrar, pois houve bastante sofrimento físico para ela nos partos dos dois filhos.
É natural que se tente manter a recém-chegada mais protegida, sem realizar muito esforço físico e acomodada sobre lugares macios, como sofás, camas e almofadas.
O que a Lena contava, e braba, é que a cama do casal havia sido quebrada meses antes do parto da nenê e que, ao sair para o parto, ela havia tinha pedido diretamente ao pai, o Mário Feio, que desse um jeito naquela cama.
Certamente ela imaginava que, quando voltasse, ele teria realizado essa – e outras tarefas – necessárias para o bem estar da família.
Bem, acontece que o Mário nunca teve essa formação específica e, na certa, criado desde pequeno em colégios internos, nunca viu como agia um verdadeiro chefe de família.
Para encurtar a nossa já pequena história, a Lena passou alguns dias hospitalizada e voltou com o novo bebê nos braços. Primeiro, passaram na casa da Sônia, onde o Marcus esperava a chegada da mãe e do irmão.
Na empolgação da sala da casa da Sônia, na Rua Morretes, a primeira surpresa: o Marcus e a Rose, a prima mais velha, filha da madrinha, corriam um atrás do outro, com um pedaço de pau de mais ou menos uns 70 cm na mão. Na perseguição, o Marcus tropeçou e caiu com o pedaço de madeira embaixo do queixo, que ficou ali, cravado na pele, pendurado quando ele se levantou...

Essa cicatriz permaneceu no queixo dele para sempre, e na alma da Lena também.
Quando ela terminava esse relato, ele levantava a cabeça e mostrava o risco que ficou ali, embaixo do maxilar. Nunca se soube o que ocorreu ali, se um tropeço ou um empurrão, mas o filho dela ficara marcado e era com isso que ela se importava, lógico.

E a cama quebrou

Passado o susto e atendida a emergência médica, a família, agora com quatro integrantes, retornou à casa, na Travessa Jaguarão, em que moravam.
Feliz pela chegada da mulher e do retorno da vida ao seu normal, o Mário nada disse à esposa sobre suas tarefas agendadas.
E foi assim que, após se acomodarem aqui e ali, ela sentou na beira da cama (como se vê na foto) para amamentar a nenê e descansar um pouquinho, após um dia exaustivo e cheio de novidades e, como vocês já devem estar antecipando, houve um barulho de estrondo e no minuto seguinte, a Lena caía sentada sobre a madeira da cama, que desabou inteira...
A cama quebrada se desmontou inteira, com a Lena em cima e a criança no colo.
Tendo de escolher entre se apoiar para não se bater ou segurar a nenê firme nos braços, a Lena – lógico – optou pelo segundo, e se machucou, bastante...

Não é preciso ser vidente para imaginar a bronca que o Mário Feio ouviu, né?
O Marcus? deve ter presenciado tudo, observando em silêncio essa lição.

Maria Helena Pinheiro, uma jovem adulta

Maria Helena Pinheiro em 1963-1964

Recordação de Aniversário do Alemão

Foto cedida ao blog do Marcus pela Tia Marli Pinheiro


Esta foto veio dos alfarrábios da Tia Marli e mostra um momento da família do Saul Pinheiro, entre amigos, comemorando o aniversário do filho Sandro Dal Bosco Pinheiro.
Da esquerda para a direita: em pé, Tia Sônia (visão parcial do rosto), Vó Ecilda com a pequena Silvana Dal Bosco Pinheiro no colo.
Não consegui identificar as outras duas adultas em pé, mas imagino que a da direita, da qual temos a visão parcial de um casado rosa, seja a Magda, grande amiga da familia e madrinha do aniversariante.
E, das crianças, o Sandro em destaque, sempre muito bonito aquele Alemão, completando três anos (acho, pelo tamanho da Silvana) e, do lado dele, acho que é Letícia, filha da Magda e do Catarina (Carlinhos), padrinho do Sandro e grande amigo do Tio Saul, também.
O fotógrafo deve ter sido o próprio Saul, o mais versado nestas artes fotográficas, como já mencionamos antes aqui no blog do Marcus.
Imagino que o local do aniversário tenha sido o apartamento em que eles moraram, ali na Dom Diogo de Souza, rua da faculdade São Judas Tadeu, onde moraram nos primeiros anos das crianças.

Em Santo Ângelo

Catedral de Santo Ângelo, Praça Pinheiro Machado - Fonte:  Santo Ângelo 302 anos de história

Acho que ninguém(ou muito poucos)sabe(m)que a família do Marcus morou um tempo no interior do Estado, mais precisamente na Região das Missões, em Santo Ângelo.
Em razão de uma oferta de trabalho ao pai dele, Mário Feio de Lemos, a família toda se tocou de mala e cuia para essa distância: 459 km de Porto Alegre.
Aqui no Rio Grande do Sul, antes de ser advogado, o pai dele, Mário atuou na VARIG, na área de compras, na década de 60, como Representante da Indústria de Alimentos Quaker e, muitas vezes, como vendedor.
Éramos pequenos e muito pouca coisa eu lembro em uma sequência que tenha lógica para poder contar aqui...
Sobre a mudança para Santo Ângelo, o Mário Feio e a Lena foram primeiro e, segundo minha lembrança, ficamos aos cuidados da Vó Ecilda, pela primeira, última e única vez.
Quem conhece(u) a Maria Helena sabe, ela não tinha por hábito deixar os filhos pequenos com alguém para ir fazer alguma coisa, especialmente com a Vó, a quem ela nunca queria dar trabalho. Ela sempre levava os filhos junto, ou, em caso de não poder levá-los, simplesmente deixava de ir.
Depois de terem encaminhado tudo por lá, voltaram para nos buscar.

A viagem a Santo Ângelo

Recordo que embarcamos à noite em um fusca branco e que pegamos a estrada. O Marcus com cerca de 6 anos e eu com 3, mesmo vestidos e com calçados nos pés, ganhamos nossos travesseiros e uma coberta por cima. Assim, acomodados, pegamos no sono confortavelmente lado a lado, dormíamos boa parte da viagem deitados de todo o comprimento no banco de trás.

Duas coisas que mais marcaram aquela viagem, e outras que fizemos de Porto Alegre a Santo Ângelo, foram o tempo da viagem (uma eternidade!) e as marcas da terra vermelha nos vidros do fusca.
Quando chovia, então, o carro começava a derrapar e dançar a parte traseira, enquanto espirrava para todos os lados aquela massa vermelho. Essa era a visão que eu tinha da viagem: o vidro traseiro do fusca no fundo escuro da noite, e a camada grossa de barro vermelho do lado de fora.

Não sei muito bem o tempo que a família passou por lá, imagino que chegou a um ano, talvez um pouco mais.
Foi a única vez em que a família Feio de Lemos morou em uma casa tão bonita e tão grande. Era uma casa chique, com dois andares.
Mais do que isso: era uma bela casa com sacadas, jardim e pátio. Foi a oportunidade em que a Lena e o Mário puderam oferecer um quarto individual para cada um dos filhos.

Foi nessa fase da vida do Marcus que ele conheceu o amigo que mais marcou a infância dele, o Aramin. Marcou a tal ponto, que depois de adulto, pesquisou na internet e tornou a voltar a Santo Ângelo algumas vezes, em busca de retomar aquela amizade que ele prezava tanto. Sobre o Aramin e sobre esse encontro, vamos contar em outro momento.

Foto da Lembrança Escolar do Marcus, tirada na Escola em Santo Ângelo, 1971

Neste, voltemos ao fato de que lá o Marcus iniciou a vida escolar. Lá ele vestiu o uniforme da escola pela primeira vez (foto) e, de lá ele tinha uma recordação que conto agora:

Como em todas as cidades pequenas, existia uma praça no centro. E em torno dessa praça, aos domingos, passeavam as famílias para sua distração. Passeavam a pé e bem vestidos os moradores, moradoras e crianças, alguns por ali até passeavam de carro.
O Marcus tinha uma lembrança muito forte desse período em que vivemos lá em Santo Ângelo.
Ele já era um menino e possuía o seu próprio círculo de amigos, frequentando o jardim de infância e achava legal também fazer aquele trotoir na praça, aos domingos, para ver e ser visto.
Do que ele nunca mais esqueceu, e quem conviveu com ele pode imaginar o quanto isso pode ter sido marcante, foi que, apenas durante aquele (curto) período, em toda a sua infância, que os passeios puderam ser a bordo de um carro.
Ele era um dos poucos guris que tinham carro e (olha só), ele me disse que tinha o maior orgulho de ver a mãe dirigindo! Achava chique ter uma mãe motorista, diferente das outras.

Foto: Santo Ângelo 302 anos de história
Foto da colunata da Catedral de Santo Ângelo, Praça Pinheiro Machado, de Ander Vaz