segunda-feira, 15 de outubro de 2012

E a Argentina invadiu o Brasil

A Argentina invadiu o Brasil.


Não sei bem como ou quando ocorreu, mas acho que foi no inverno de 1974. Não foi de uma maneira bélica, nem sangrenta. Não eram exércitos armados, nem homens uniformizados.

Foi um homem, apenas um. E ele nunca mais foi embora.

Um belo dia daquele ano (que tanto pode ter sido em 1975 ou em 76), a Vera Regina Pinheiro trouxe pela mão um amigo. Amigo estrangeiro. Mais do que isso, de um país chamado “Argentina”. Ele falava diferente e insistia em elogiar aquele lugar desconhecido de todos.

Para clarear a história: a Vera Regina era uma das três filhas da Vó Ecilda (irmã da Lena, minha mãe, e também, minha madrinha), a única que ainda morava com os pais.

O seu Joventino (Vô Tinto), vocês sabem aqui pelo blog (http://marcusfeiodelemos.blogspot.com.br/2011/05/o-comeco-de-tudo.html) não permitia liberdades com as filhas dele, não.
Então, certamente, a invasão argentina deveria vir por algum outro território que não fosse o da casa da Vera.
E assim foi.

A luz da Vera Regina

Primeiro, necessitamos contar aqui a trajetória da Vera Regina http://marcusfeiodelemos.blogspot.com.br/2011/08/vera-regina.html) que, desde os 9 tenros anos demonstrava uma capacidade mediúnica incontestável, um verdadeiro talento nato para visões incríveis, de um mundo desconhecido para todos ao redor: o do plano espiritual.
A partir de muito cedo a Vera iniciou a contar a história de um jeito muito particular, permeado de participações que, por mais que quiséssemos, não podíamos enxergar.

Quando a Vera passou a freqüentar o Centro Espírita Paz e Amor e a estudar o Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, a vida dela alçou vôo.
Todos na família sabiam que a Vera Regina era médium (termo que vem do latim e significa “mediar”) e se comunicava com os espíritos. A Vera é médium vidente de primeira grandeza e uma trabalhadora mediúnica que executou muito bem os seus deveres na Paz & Amor durante mais de 30 anos da vida.

E, nessa Casa Espírita (que depois veio a ser a Sociedade Espírita de Paz e Amor), ela conheceu e foi conhecida por muita gente.

Uma das pessoas que ela conheceu na Paz & Amor foi um pintor argentino, de passagem no Brasil com alguns de seus desenhos, rumo a Madri, na Espanha. Os anos eram duros e espinhosos na ditadura militar do país vizinho, não eram propícios ao desenvolvimento da pintura e da sua arte por lá.

Já por aqui, a ditadura também plantava suas flores nefastas, mas a tirania aqui não se traduziu pela perseguição do mesmo número de pessoas que o regime militar ceifou na Argentina.

Nesse contexto, típico dos anos 70, a Vera Regina emprestava sua alegria, espontaneidade e leveza aos lugares por onde passava. Figura conceituada na Casa Espírita, ministrava cursos, aulas, aulinhas de evangelização e tudo o mais, sempre requisitada para orientar grupos de jovens, a participar de visitações e caravanas, etc.

Como amiga, a Vera me descreveu o momento em que conheceu o jovem pintor barbudo e argentino. Ela o descreveu para mim de forma bem pessoal e feminina: “eu vi que ele era machão, que era artista e que era aventureiro. Também vi que tinha uma loira dependurada nele e que não pretendia largar”, ela disse, e continuou: “Também vi que ele iria ser meu”.

Foi desse momento em diante, após serem apresentados, que eles passaram a se conhecer e a se amar.

Escolhido o território

Diante da amizade (e do amor) que crescia e dos momentos que (cada vez mais) passavam juntos, a Vera veio conversar com a Lena.

E num dia de inverno, o território da invasão foi escolhido: o argentino veio morar na nossa casa.
Não lembro muito bem como as coisas aconteceram, nem da primeira vez em que nos vimos. Sei apenas que o amigo da Vera, Egidio Benigno Villalba, veio morar na nossa casa, dividindo o teto com o Marcus e comigo - crianças -, com a Lena, com o Scooby e o Rusty, nossos dois guaipecas, na Rua Júlio Verne, 394, em Porto Alegre.

A primeira coisa marcante, além da fala e da barba, foi a bandeira.
Nós, crianças, que mal conhecíamos a bandeira do Brasil – e não a entendíamos – fomos apresentados ao azul celeste da bandeira argentina. E muito mais.

(continua na próxima postagem)

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