terça-feira, 24 de maio de 2011

Soninho da tarde no apartamento da Travessa Jaguarão


A Lena sempre deu muita vida a essa foto. Ela dizia que o Marcus estava muito lindo e lamentava o fundo escuro.

Todo mundo sabe que o Marcus não gostava muito de dormir. Sempre pulou da cama cedo.
Cedo? Não.
Pulava da cama antes que o sol nascesse, de preferência. Marcar um encontro, um compromisso ou um horário com ele era ter a certeza de que ele chegaria uma hora antes, no mínimo.E já estaria bastante irritado quando alguém, não tão pontual, chegasse 10 ou 15 minutos depois da hora marcada...
Bem, o que vamos contar aqui e com essa foto do berço dele no apartamento da Travessa Jaguarão é sobre o soninho da tarde. É normal aos bebês dormirem bastante. Mesmo após os dois, três anos, um soninho para crescer é uma boa pedida.
O Marcus me contou, mais de uma vez, que a Lena – provavelmente bem cansada do serviço da casa – deitava com ele para o soninho da tarde.
Ele lembrava que a Lena pegava no sono, ele não. Talvez tivesse muita pressa para viver. Não dormia, ficava quietinho ali, ao lado dela, até ter certeza de que ela dormia mesmo.
Então, levantava devagar e ia até o parapeito da janela – do terceiro andar, acho – e sentava ali. Isso mesmo, sentava como se fosse um cavalo, uma perna para fora, outra para dentro e cavalgava sozinho, sonhando acordado com as pessoas que caminhavam lá fora, na calçada.
Quando a Lena estava se acordando, ele voltava para cama ou para o chão, para brincar, sozinho e em silêncio. A mãe nunca viu nada, nem suspeitava. O guri, no dia seguinte, fazia tudo de novo.
E o perigo ia aumentando.
Ele contava que um dia, no meio de toda essa aventura ligada à janela e ao seu cavalo imaginário, ele acabou pegando no sono. E descrevia o sonho como se tivesse acontecido ontem. Aliás, o Marcus tem (tinha) uma memória... O sonho que ele me contou era isso: ele saía da cama, sentava na janela e colocava a perna para fora, começava a cavalgar e... caía. Caía mesmo.
No sonho ele caía de um modo tão assustador que ele, mesmo criança, entendeu o recado do perigo que vinha correndo todas as tardes. E, segundo ele me contou, bem sério, nunca mais sentou na janela do terceiro andar para montar a cavalo enquanto a Lena dormia...

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